Passeio pela orla do rio
Naquela manhã caminhava calmamente
pela beira do rio “torto” em Sanfins, observando e sentindo a presença da
natureza a penetrar a minha pele; o meu corpo e todo o meu ser.
Os sons
característicos dos pássaros que esvoaçavam despreocupados, namorando os céus
com uma intensidade de vida contagiante.
Andava eu como o fazia
frequentemente quando criança, junto aos moinhos antigos, agora abandonados, um
dos quais de meus país.
Pensamentos melancólicos e de saudade afloravam-me na
memória.
(Moinho abandonado)
Como me sentia bem ali, sorvendo
cada pedaço da natureza, cada partícula daquele oxigénio puro que se entranhava
e me polvilhava de vida purificando-me a alma.
Estava no mês de Outubro e o meu maior
propósito naquele passeio, prendia-se com o reviver o aroma dos frutos silvestres,
que na minha infância e adolescência por ali encontrava. Ainda conhecia (e
ainda conheço) os locais onde cresciam os medronheiros, um arbusto ou pequena
árvore de folha perene, que ostenta cores e empresta sabores aos matagais e
florestas mediterrânicos.
Passava na orla do rio, junto a uma
zona íngreme onde o rio se estrangulava numa garganta apertada,
precipitando-se num abismo, espalhando gotículas pelas margens, quando avistei
finalmente o local onde antes me deleitava por momentos a contemplar os
silêncios e aromas da mãe natureza.
Memórias do meu palácio
Uma rocha em forma de casa, junto ao rio, com uma
entrada suficientemente grande, pela qual me podia introduzir naquela rocha
oca. Dirigi-me para ali e recordei as brincadeiras de criança. Fiquei deveras
contente por verificar que ainda ali restavam indícios de objectos por mim ali
deixados. Pedaços de madeira esculpida; pinhas; lápis; papelões e partes de uma guitarra
de plástico, que me havia sido oferecida pela minha mãe, tinha eu 7 anos. Foi
tão bom rever aquele local místico, o meu palácio, que eu havia ornamentado e escondia
do resto do mundo. Era o meu universo, onde me presenteava com o imaginário,
divagando por mundos por mim sonhados e vividos em pensamentos que me alegravam
a existência. O interior da pedra é acolhedor e possui uma espécie de janela
para o exterior e uma espécie de pedra rectangular, onde eu comia os medronhos
que apanhava ali perto.
Foi bom recordar aquele meu “palácio
secreto” onde sonhei em criança. Mas o que me transportou aquelas paragens,
localizadas perto do moinho de meus pais, foi o encontro com o medronheiro
situado junto a um sobreiro; alguns carvalhos e arbustos de diversas espécies a
pouco mais de 200 metros do moinho já devoluto.
O meu medronheiro
Uma alegria contagiante
percorreu-me a alma. Ali estava ele o “meu” medronheiro, uma pequena árvore
semelhante a um arbusto com cerca de 2 metros de altura, ostentando uma copa
oval segura pelos seu ramos grossos, suportada por um troco delegado com uma
casca pardo-acinzentada/avermelhada, mas já muito gretado e escamoso.
Exibia orgulhosamente os seus
frutos globosos; granulosos e eriçados, apresentando a sua cor avermelhava (já
maduros), apelando a serem colhidos e degustados. Até o medronheiro ficou feliz
com a minha presença, visto ter passado tantos anos privado da minha presença.
Acho até que os seus frutos exalaram um cheiro mais intenso e as suas folhas
brilharam com mais intensidade!
Maravilhei-me com aquela visão, mas não me fiz rogado e iniciei
a colheita e a degustação deste fruto que se come prazeirosamente No entanto
este fruto apresenta um teor alcoólico considerável, pelo que convém não
abusar!
O medronheiro para quem desconhece, floresce entre o Outono ou nos princípios
do Inverno. A maturação dos frutos ocorre no Outono do ano procedente. É nesta
época, devido ao facto de a floração e a maturação dos frutos do ano anterior
ser simultânea, que o medronheiro se cobre de uma "veste" colorida de
grande beleza. Nas suas cores podemos encontrar o verde brilhante das folhas, o
branco das flores e os frutos que são inicialmente amarelos, tornando-se
vermelhos com a sua maturação.
Quem se quiser aventurar, pode sempre deslocar-se nesta
época às aldeias e perguntar onde existem medronheiros que alguém os saberá
informar. Felizmente Portugal é rico neste fruto, podendo ser encontrado em
várias serras nacionais. Parta à aventura como eu o fiz, descubra o medronheiro
e delicie-se com este fruto …
Deixo aqui algumas informações sobre o medronheiro e as
suas variadas utilizações, espero que seja útil …
Quem se quiser aventurar, pode sempre deslocar-se nesta
época às aldeias e perguntar onde existem medronheiros que alguém os saberá
informar. Felizmente Portugal é rico neste fruto, podendo ser encontrado em
várias serras nacionais. Parta à aventura como eu o fiz, descubra o medronheiro
e delicie-se com este fruto …
Medronheiros e medronhos
O medronheiro é um arbusto ou pequena
árvore de folha perene, que empresta cores e sabores aos matagais
mediterrânicos. É particularmente conhecido pela aguardente de medronho
preparada a partir dos seus frutos.
TAXONOMIA
O medronheiro
(Arbutus unedo L.) pertence à família das Ericaceas,
partilhando-a com as urzes (Erica sp.).
CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS
É um arbusto
ou uma árvore de pequena dimensão. Pode atingir os 8 a 10 m de altura ainda que
usualmente não ultrapasse os 5 m.
O tronco
possui um ritidoma (casca) pardo-avermelhada ou pardo-acinzentada, delgada,
gretada, muito escamosa, caduca em pequenas placas nos exemplares mais velhos.
A sua copa tem
uma forma oval com ramos grossos.
As folhas são
persistentes (existem folhas na copa durante todo o ano), grandes (medem 4 a 11
cm), com pecíolo curto, alternadas, coriáceas, glabras, lustrosas e
verde-escuras na página superior e mais claras na página inferior, serrilhadas
ou subinteiras. São muito parecidas com as do loureiro.
As flores são
pequenas, com um cálice curto e corola gamopetala, urceolada, esverdeadas,
reunidas em cachos (ramalhetes) compostos, terminais e pendentes. Debaixo do
ovário, encontramos 10 estames inseridos num disco.
Os frutos são
baciformes, globosos, granulosos ou eriçados na superfície, medem entre 20 a 25
mm, de cor avermelhada quando maduros, com sementes pequenas, angulares e de
cor castanha.
Floresce no
Outono ou no princípio do Inverno. A maturação dos frutos ocorre no Outono do
ano procedente. É nesta época, devido ao facto de a floração e a maturação dos
frutos do ano anterior ser simultânea, que o medronheiro se cobre de uma
"veste" colorida de grande beleza. Nas suas cores podemos encontrar o
verde brilhante das folhas, o branco das flores e os frutos que são
inicialmente amarelos, tornando-se vermelhos com a sua maturação.
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
Distribui-se
por uma vasta área na bacia mediterrânica, excepto na orla costeira do Sudoeste
de Espanha e na área que vai desde Tunis até ao Sul da Turquia. A sua área de
distribuição inclui também todo o território de Portugal continental, o Norte
de Espanha, as regiões das Landes e da Bretanha em França e a zona ocidental da
Irlanda.
No
nosso país, as maiores manchas situam-se nas Serras de Monchique e do
Caldeirão.
CONDIÇÕES AMBIENTAIS
É
uma espécie que aparece consociada às Quercíneas, particularmente ao sobreiro e
à azinheira, ocorrendo nos montados e em zonas de matos resultantes da sua
degradação. Crescem tanto em solos ácidos como alcalinos mas preferem que sejam
profundos e frescos. Aparecem até aos 1200 m de altitude. O seu clima favorito
é suave e sem geadas fortes.
UTILIZAÇÕES
O
medronheiro é explorado, sobretudo nas Serras de Monchique e do Caldeirão, para
a produção de aguardente. Esta é chamada de "aguardente de medronho",
um produto regional sempre apresentado com brio no cabaz dos produtos regionais
do Algarve. A sua cultura esteve parada durante várias décadas, tendo
ressurgido com o aumento da rendibilidade da actividade de produção desta
aguardente. Para tal facto contribuiu a utilização de máquinas como as
escavadoras (buldozers)
que permitiram cortar os medronheiros pela sua base o que estimula a rebentação
pela cepa (zona do caule junto ao solo que "sobrevive" ao corte). O
pico de produção verifica-se no 3º ano da planta, mantendo-se a níveis
economicamente viáveis durante mais 5 a 8 anos. Ao fim de 15-20 anos, torna-se
necessário removê-los para que sejam substituídos. Esta remoção, realizada nos
moldes acima explicados, ainda que seja rápida e pouco onerosa provoca o
arrastamento das camadas superficiais do solo com a sua consequente maior
susceptibilidade aos agentes erosivos.
O
fruto é comestível e com ele pode-se preparar uma aguardente de excelente
qualidade (aguardente de medronho). As folhas são usadas na medicina popular
pelas suas propriedades diuréticas e anti-sépticas. As folhas e a casca são
muito ricas em taninos e eram usadas para curtir peles. A sua madeira é
apreciada para fabricar carvão vegetal.
Esta espécie aparece, normalmente, com porte arbustivo, podendo no entanto, com a idade e quando as condições ecológicas são favoráveis, aparecer como pequena árvore.
A produção do medronheiro é, apesar de tudo, bastante irregular dado que está dependente de dois factores aleatórios, alheios a qualquer medida de gestão: as geadas e a existência de anos de safra e contra-safra (grande produção de fruto e baixa produção de fruto em anos sucessivos). Os medronhos (frutos) são destilados em alambique, sendo necessários 15 kg para produzir 15 l de aguardente.
As folhas e
casca do medronheiro contêm taninos que são utilizados para curtir as peles e,
na medicina popular, para curar as diarreias, as desinterias e as infecções
urinárias.
A
sua madeira constitui um excelente combustível sendo também boa para tornear.
CURIOSIDADES
Qual
a origem das designações do género Arbutus? E do epíteto
específico unedo ?
São ambas antigas denominações romanas nas quais Lineu se baseou para atribuir este nome à planta. O primeiro é o diminuitivo de arbor e significa arbusto. Alguns autores discordam e afirmam que a origem etimológica encontra-se no termo celta, arbois que significa áspero, rude, aludindo aos seus frutos.
São ambas antigas denominações romanas nas quais Lineu se baseou para atribuir este nome à planta. O primeiro é o diminuitivo de arbor e significa arbusto. Alguns autores discordam e afirmam que a origem etimológica encontra-se no termo celta, arbois que significa áspero, rude, aludindo aos seus frutos.
A
resposta à segunda pergunta pode ser encontrada no facto de os seus frutos,
ainda que comestíveis, possuírem um sabor desagradável (quando verdes). Unedo significa "um e mais nenhum"
e foi adoptado para esta espécie de modo a avisar os mais temerários que o
desejem provar, de que não gostarão de repetir a experiência uma segunda vez.
Os
medronhos são também famosos pela capacidade de provocar embriaguez e dor de
cabeça a quem consome muitos, uma vez que quando maduros, possuem uma certa
quantidade de álcool.
Atenção: Os
medronhos são também famosos pela capacidade de provocar embriaguez e dor de
cabeça a quem consome muitos, uma vez que quando maduros, possuem uma certa
quantidade de álcool.
Curiosidades:
Aguardente
do Medronho:
A aguardente
de medronho (medronheira) é produzida a partir dos frutos com o mesmo nome
(medronho) que se cultivam nas serranias do Algarve. Pode dizer-se que é uma
bebida regional. No entanto também se produz noutras zonas do país, embora em
menos quantidade.
A produção
A fruta é
fermentada em tanques de madeira ou barro. Actualmente a fermentação também se
faz em depósitos de cimento, mas só em destilarias de significativa dimensão. A
fermentação é natural e dura entre trinta a sessenta dias. Os tanques devem ser
cobertos com frutos esmagados para evitar o contacto com o ar. É necessário
adicionar uma parte de água para cinco partes de fruta. Depois de fermentado o
produto deve ser guardado durante sessenta dias e bem protegido do ar. Hoje em
dia existem destilarias semi-industriais. No entanto, a melhor aguardente é
aquela que é produzida por destilação descontínua (fogo directo).
Uma boa aguardente de medronho é transparente, com o cheiro e o gosto da fruta.
Nas montanhas, uma boa aguardente deve ter 50º.
No entanto a sua comercialização faz-se entre os 40º e 50º.
Uma boa aguardente de medronho é transparente, com o cheiro e o gosto da fruta.
Nas montanhas, uma boa aguardente deve ter 50º.
No entanto a sua comercialização faz-se entre os 40º e 50º.
Envelhecimento
A qualidade
da aguardente aumenta quando esta é amadurecida/envelhecida em barris durante
oito anos. Este período de envelhecimento não deverá ser prolongado por mais
tempo pois não terá qualquer efeito na qualidade da aguardente.
O medronho bebe-se, normalmente, com o café. Os puristas consideram que deve ser bebido à temperatura ambiente, embora algumas pessoas prefiram bebê-lo frio.
O famoso licor algarvio Brandymel é feito com medronho.
O medronho bebe-se, normalmente, com o café. Os puristas consideram que deve ser bebido à temperatura ambiente, embora algumas pessoas prefiram bebê-lo frio.
O famoso licor algarvio Brandymel é feito com medronho.
Uma lenda...
HISTÓRIA
DO PEDIDO QUE O DIABO FEZ A DEUS
O Diabo
julgava-se inteligente e andava sempre à espreita para ver se apanhava alguém
distraído para pregar as suas partidas.
Um dia ele,
pensando que Deus estivesse distraído, fez o seguinte pedido:
- Ó Senhor,
vós que possuis tantas árvores oferecei-me duas, o medronheiro e a laranjeira.
O Senhor disse-lhe:
O Senhor disse-lhe:
- Pede as
árvores quando não tiver flor nem fruto.
Mas a
laranjeira e o medronheiro têm sempre flor ou fruto, se calhar até as duas
coisas ao mesmo tempo. Por causa disso, o Diabo nunca mais pode voltar a falar
nessas duas árvores.
Licor de medronho
Medronhos apanhados, lavadinhos e prontos para o preparado.
É necessário 1 litro de álcool para licor
1 kilo de medronhos
1 kilo de açúcar (eu utilizo açúcar amarelo)
Há várias maneiras de preparar o licor,
1.º
Mistura-se o álcool e os medronhos
2.º Um mês
depois acrescenta-se 1,5 kg de açúcar amarelo
3.º
Aguarda-se mais um mês filtra-se o licor retirando-se os medronhos.
4.º Deixa-se
apurar mais dois meses e pode saborear.
Fontes:http://naturlink.sapo.pt/Natureza-e-Ambiente/Fichas-de-Especies/content/Medronheiros-e-medronhos?bl=1
http://www.rio-dao.de/home-pt.html
http://www.rio-dao.de/home-pt.html
João, ao ler esta crónica tive a nítida sensação de ouvir o barulho do rio e sentir o cheiro do mato.
ResponderEliminarQuero com isto dizer que escreves muito bem e que, por isso, espero continuar a ler mais coisas tuas.
Parabéns!
Obrigado pelo teu comentário Isabel. Fico feliz que tenhas gostado!
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