(Vindima em Sanfins - Valpaços)
A vitivinicultura é em si
uma das culturas mais trabalhosas para o lavrador que durante todo o ano tem
que se dedicar à vinha, esperando também que a natureza ajude a produzir-se um vinho
de melhor qualidade. Desde a enxertia; à poda; à lavoura; aos tratamentos, existe todo um
processo que é necessário para garantir a saúde da videira assegurando que a
mesma seja produtiva.
Mostram-se já maduros em
Agosto alguns bagos de uva que sensivelmente dentro de um mês e meio serão alvo de colheita
(Setembro/inícios de Outubro, dependendo muito da exposição solar que incide
nas vinhas e das restantes condições climatéricas).
Quando olho as uvas
suculentas, vestidas pelas folhas das videiras, apelando a serem degustadas, reconheço que me apetece provar tão
doce néctar, o que faço prazeirosamente. Principalmente as denominadas uvas-de-mesa, que usualmente comia (e como sempre que tenho oportunidade), quer retiradas da videira, enquanto me dedico à labuta, quer
acompanhadas com uma côdea de pão que trazia no farnel ou depois em casa, consumindo-as mais vagarosamente.
Logo me aflora na memória os tempos mais recuados, em que com frequência passava dias a vindimar, quer nas minhas propriedades quer para outros familiares; amigos ou outros residentes da freguesia.
Logo me aflora na memória os tempos mais recuados, em que com frequência passava dias a vindimar, quer nas minhas propriedades quer para outros familiares; amigos ou outros residentes da freguesia.
Actualmente ainda me delicio
nas vindimas em terras transmontanas, onde os meus familiares possuem duas
vinhas com castas variadas, quer de uva tinta quer de uva branca.
É uma das tarefas agrícolas
que faço com prazer e que me liberta do stress diário, acalmando-me - acaba por ser uma boa terapia que recomendo vivamente.
Corto a uva da videira com a tesoura ou com a navalha,
aproveitando de quando em vez para “penicar” as uvas; colocando-as depois nos
baldes. Tarefa que se repete ritmicamente, até o mesmo estar cheio e ser
despejado para sacos próprios ou para outros recipientes habitualmente utilizados nas vindimas, que são depois
colocados nos tratores, continuando-se assim sucessivamente, até a vinha estar completamente despida do seu bem
mais precioso, as uvas. No entanto sempre ficam alguns bagos quer nas videiras, quer no solo, que são depois consumidos pelas aves, que por ali deambulam - nada se perdendo na natureza.
(Uvas a serem carregadas no tractor)
Concluída a vindima as uvas
são levadas para o lagar, onde são “mastragadas” (desfeitas) com auxílio a uma
máquina que apelidam de mastragador, e que tem por função esmagar as uvas.
Na
verdade não gosto nada desse método, pois o contacto da uva com o metal tira-lhe a
mística ancestral e segundo dizem, o verdadeiro sabor.
(Máquina usada para esmagar as uvas)
Antigamente e mesmo agora, muitos vitivinicultores, após a colocação
da uva no lagar, a uva é desfeita através do pisar dos homens que
alegremente, numa amena cavaqueira cantam ou contam histórias para ir
passando o tempo ao mesmo tempo que de uma maneira coordenada castigavam as uvas,
esmagando-as, extraindo-lhes o suco avermelhado, separando-as numa primeira
fase do bagaço.
(Pisar das uvas num lagar familiar)
É uma tarefa também ela
agradável. Dizem até que o vinho faz bem à pele – quem sabe pode até ser
verdade. Nessa tarefa de pisar o vinho na forma tradicional, aproveitava-se e
ainda agora de faz, para se beber o vinho doce, directamente do lagar ou com
recurso a um “quador” para filtrar as impurezas.
Mas cuidado para os mais sensíveis pois apesar de doce o teor alcoólico está lá e além disso pode causar-lhes reações adversas, quando bebido mais que a conta, claro está!
Mas cuidado para os mais sensíveis pois apesar de doce o teor alcoólico está lá e além disso pode causar-lhes reações adversas, quando bebido mais que a conta, claro está!
Depois de várias horas a
pisar-se o vinho, este fica a repousar, de maneira a que possa fermentar, para
no dia seguinte se baixar a crosta que emerge mercê desse processo de fermentação (como o
bagaço e o restos dos bagos são mais leves sobem à superfície). Assim, no dia seguinte, repete-se o processo, pisando-se novamente.
O trabalho esse, não acaba ali. Após o vinho sair do lagar é necessário prensar o bagaço para retirar o vinho que ainda esteja teimosamente “agarrado” aos restos das uvas.
Dias depois o vinho é retirado e colocado nas pipas de madeira, ou nas cubas em inox, as quais são previamente limpas e tratadas para receber tão precioso néctar fruto do trabalho do lavrador e das benesses da natureza, que nem sempre apura o vinho ao gosto de quem com ele se deleita.
O trabalho esse, não acaba ali. Após o vinho sair do lagar é necessário prensar o bagaço para retirar o vinho que ainda esteja teimosamente “agarrado” aos restos das uvas.
Dias depois o vinho é retirado e colocado nas pipas de madeira, ou nas cubas em inox, as quais são previamente limpas e tratadas para receber tão precioso néctar fruto do trabalho do lavrador e das benesses da natureza, que nem sempre apura o vinho ao gosto de quem com ele se deleita.
(Vinho acondicionado na pipa de madeira)
Também o bagaço tem destino,
rumando ao alambique, onde após um processo de destilação dá lugar à aguardente
ou bagaço como também lhe chamam.
Trata-se de uma bebida muito forte, que endurece a alma do homem por mais fria ou gélida que seja.
Trata-se de uma bebida muito forte, que endurece a alma do homem por mais fria ou gélida que seja.
(Alambique - colocação do bagaço)
Falei-vos anteriormente de memórias e tempos mais
recentes.
Recuando alguns anos, uma das vinhas que tive e que actualmente está abandonada (de poulo), situada no moinho, junto ao rio Torto em Sanfins, estava convenientemente colocada em calços.
Ali os meus antepassados (meus pais e avós), haviam plantado videiras em filas ou em latadas, mas apenas uvas morangueiras.
Recuando alguns anos, uma das vinhas que tive e que actualmente está abandonada (de poulo), situada no moinho, junto ao rio Torto em Sanfins, estava convenientemente colocada em calços.
Ali os meus antepassados (meus pais e avós), haviam plantado videiras em filas ou em latadas, mas apenas uvas morangueiras.
Para quem não sabe o
morangueiro é a designação que no Norte e noutras zonas do país se dá ao vinho
produzido a partir de castas de uva americana.
Estas uvas são muito doces,
em geral com cor violácea e rosada, com um intenso sabor frutado, lembrando o
cheiro a morango. Ao contrário doutras castas o vinho que produzia no moinho
era apenas morangueiro (ou americano), com um teor alcoólico mais baixo,
dificultando sua conservação, pois quando exposto ao ar facilmente se estraga tornando-se em vinagre.
A vindima era feita pela
família, de uma forma mais cuidadosa, mercê das características do terreno.
As uvas eram também elas, acondicionadas nos sacos e depois carregadas num animal de carga (mula; macho; burro ou cavalo).
Os caminhos para o terreno (denominado de moinho) é sinuoso e os pobres animais tinham que fazer várias viagens para a aldeia, até ao lagar do Sr. Aires e da Sr.ª Isolina, onde eram depois depositadas.
As uvas eram também elas, acondicionadas nos sacos e depois carregadas num animal de carga (mula; macho; burro ou cavalo).
Os caminhos para o terreno (denominado de moinho) é sinuoso e os pobres animais tinham que fazer várias viagens para a aldeia, até ao lagar do Sr. Aires e da Sr.ª Isolina, onde eram depois depositadas.
Ali eu e meus irmãos, por
vezes com ajuda de outras pessoas ficávamos encarregues de pisar o vinho morangueiro, nos
mesmos moldes que anteriormente expliquei.
Em relação a este tipo de vinho, era consumido na generalidade dos casos no mesmo ano da produção, visto que era de mais
difícil conservação.
Também era algum dele (quando em excesso para o consumo próprio), aproveitado para fazer aguardente nos alambiques.
Também era algum dele (quando em excesso para o consumo próprio), aproveitado para fazer aguardente nos alambiques.
Pode até ser um vinho considerado de baixa qualidade, mas a
verdade é que é considerado por quem o consome, refrescante e por ser
intensamente aromático é por vezes utilizado em refrescos (com uma bebida
gasosa) e até na culinária, continuando a ter grande número de apreciadores pelo Nordeste Transmontano e por outras regiões do país e do mundo.
O vinho é uma das principais culturas das aldeias da
terra quente (paralelamente com o azeite) sendo cultivado para consumo do
agricultor, mas grande parte é vendido na Adega Cooperativa de Valpaços, que depois produz vinhos de excelente qualidade, cujos vinhos são reconhecidos pelos enólogos e pelos especialistas mais conceituados da nossa praça - pode consultar os vinhos produzidos em Valpaços em: (http://www.acv.pt/?pID=20&mSelId=10).
Infelizmente muitas vezes o valor que é pago ao agricultor, pelo quilo da uva é inferior
ao custo da produção.
Tivesse o lavrador que pagar todas as jeiras e
seguramente que não valeria o esforço cultivarem-se as vinhas. Muitos fazem-no por
carolice; por necessidade; ou atrevo-me a dizer, até por respeito aos seus antepassados, preservando a identidade
agrícola da freguesia. Sim porque
infelizmente a vida do agricultor, não cativa novas gerações para continuar o
seu legado em tais lides diárias.
As novas gerações partem compreensivelmente em busca de novas oportunidades quer pelo país quer pelo mundo, visto que a nação não lhes reserva melhores destinos, mercê do abandono a que o interior está votado pelas elites enraizadas no país.
Quem sabe com o acentuar da crise não fará com que muitos terrenos que estão hoje abandonados possam voltar a ter o fulgor e a vida de outros tempos?
Não direi que os jovens possam viver apenas disso mas talvez como um complemento?
Quem sabe com o acentuar da crise não fará com que muitos terrenos que estão hoje abandonados possam voltar a ter o fulgor e a vida de outros tempos?
Não direi que os jovens possam viver apenas disso mas talvez como um complemento?
Seja como for aguardo
ansiosamente pela próxima vindima …
João Salvador – 15/08/2012
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