sábado, 16 de fevereiro de 2013

A Taberna do “Ti Guilhermino”



Ainda é possível encontrar em Trás-os-Montes as Tabernas (ainda que alguns a tenham dado por praticamente extintas nos anos 80/90 do século XX),com os seus típicos balcões de madeira onde repousa a balança pronta a pesar o ganha-pão do taberneiro. São ainda pontos de encontro das gentes das vilas ou aldeias do Nordeste Transmontano. Local onde se discutem as culturas das terras, os seus ganhos ou os seus desenganos, fazendo-se ali alguns negócios entre os clientes.


Homens enrijecidos pela dureza da terra e pela labuta diária, ainda que nos tempos modernos as tarefas estejam mais facilitadas, com a mecanização e massificação da utilização de tractores, que infelizmente apesar da sua inegável utilidade, ceifam muitas vidas nas terras do norte, mercê do relevo acentuado, pouco adequado para a lavoura.

Acompanhados pelo copo do vinho, servido habilmente pela mão do “Taberneiro” ou “Tasqueiro”, como alguns o apelidam, as gentes da terra, refugiam-se no licor de Baco (vinho) para aquecer a alma e combater os rigores Outonais e o diabólico frio do inverno.

Nestas tabernas típicas, o cliente pode encontrar desde o copo de vinho, à côdea do pão, aos enchidos, cerveja e outros produtos.

Nalgumas tabernas como é o caso da Taberna do “Ti Guilhermino” (um homem de luta, simples, honrado, um trabalhador incansável, amante das terras, da família, da taberna e das suas gentes) pode adquirir-se uma grande variedade de produtos além dos que já mencionei, nomeadamente: vários tipos de guloseimas (devidamente acondicionados em recipientes), gelados, produtos alimentares, produtos de higiene, cerâmicas, materiais para a agricultura e até para os afazeres domésticos (púcaros, xícaras, talheres, etc).

Até há bem pouco tempo poderiam ser ali adquiridos cântaros, regadores e outros objectos utilizados antigamente para ir buscar a água à fonte ou para regar as hortas que ainda podem ser encontradas nos terrenos contíguos a muitas habitações da aldeia.

A Taberna é também como disse um ponto de encontro, onde principalmente os homens se juntam para jogar a sueca ou o chincalhão (jogos de cartas), usualmente mais ao fim-de-semana, fazendo-o acompanhados pelo bater das cartas, pela conversa e pela bebida, aliás o único proveito dos ganhadores, além do convívio naturalmente!

É agradável ver a cumplicidade e a paixão com que o fazem, compenetrados no baralho e nos naipes que lhes são entregues, delineando as estratégias de jogo, resmungando pela sorte lhes ser madrasta, ou resfolgando de felicidade quando a sorte lhes boceja.

A vida corre por ali lenta e pachorrenta, numa paz que contagia, aproveitando o taberneiro para ir enchendo mais umas garrafas de vinho, preparando o elixir para ir servindo aos clientes. Vai ainda enchendo as prateleiras com os produtos em falta e colocando martinis, favaios, cervejas (médias e minis) na arca, para serem servidas quando forem pedidas.

Por vezes não tem vida fácil o taberneiro. Passar o dia na taberna vendendo cada vez menos, enregelado, apesar do parco aquecimento da braseira, tendo uma paciência infindável para ouvir as divagações fantasiosas daqueles que aqueceram em demasia a alma e caminham cambaleantes e com a visão turva deles próprios, perdidos nas sua cogitações nublosas, mas por vezes engraçadas (pessoas de bem que se refugiam na bebida pensando resolver as maleitas da alma).

É reconfortante ver o taberneiro ladeado pelo seu inseparável e fiel amigo, um cão arraçado de perdigueiro a quem apelida de “Piloto”. Já antes havia tido outro a quem chamava “Fidel” que o acompanhou durante perto de 16/17 anos, acompanhando a sua luta diária e da sua mulher, vendo as chegadas e partidas dos filhos (que procuraram terras mais abastadas ou onde a vida lhes pudesse sorrir) e o crescer dos netos do taberneiro. Infelizmente o “Fidel” faleceu após muitos anos em que foi um motivo de felicidade de seus donos. Sofreu muito o pobre animal!


Vive agora o taberneiro cada vez mais preocupado com o excesso de leis são “paridas” pelos legisladores que desconhecem a realidade para além dos escritórios, acabando lentamente com as tabernas, as adegas e outros estabelecimentos tradicionais, não entendendo os “políticos” (na sua maior parte são uma espécie pseudo-patriótica, sem moral, espoliadora do erário público, buscam apenas o seu próprio benefício, pouco escrupulosos e mentirosos compulsivos – tema que abordarei noutra crónica) que estão a matar as tradições transmontanas, estrangulando os pequenos negócios que já pouco ganho dá a essa gente que passa ali os dias para vender umas míseras cervejas ou meia dúzia de produtos alimentares ou de outra índole.

A Taberna é em suma um ponto de encontro das gentes da terra onde o convívio, a conversa, o jogo das cartas e a salutar partilha das experiências da vida é regra, nunca esquecendo de acompanhar com um dos principais ingredientes a bebida e de preferência que seja com um copo de vinho bem “cheinho”, acompanhado com uma côdea de pão um bocado de salpicão, chouriço ou outra iguaria!

Se passarem por terras Valpacenses façam uma visita às tabernas das aldeias, onde terão à vossa espera o sorriso sincero do taberneiro que tudo fará para que saiam satisfeitos de terras de além Marão.

Claro que não lhes fará mal uma visita a terras de Santiago da Ribeira (concelho de Valpaços), onde além de serem premiados com uma bela paisagem, podem beber um copinho de vinho da produção do “Ti Guilhermino”, taberneiro de serviço em tão garbosa aldeia!






João Salvador – 16/02/2013


Deixo-os com uma breve resenha histórica sobre a origem das tabernas e a sua definição:

DEFINIÇÕES:
Uma taberna (ou taverna) é, de uma forma geral, um lugar de negócios ou um bar onde pessoas vão para beber bebidas alcoólicas e onde também pode ser servido algum tipo de alimentação. A palavra deriva, pelo latim taberna, do gregoταβέρνα, que significa "abrigo" ou "oficina".
Reunir-se numa taberna para beber cerveja ou outra bebida alcoólica é uma tradição social de longa data, tendo sido iniciada no mínimo pelos sumérios (3500 a.C.); na Suméria o taberneiro era tradicionalmente uma mulher, mas em outros lugares e épocas as mulheres foram completamente excluídas das tabernas.
Em Portugal (onde eram muitas vezes designadas pejorativamente como tascas), a par dos cafés e das casas de pasto, as tabernas vingaram até os anos 1980 do século XX, tanto nas áreas rurais, onde eram o centro por excelência da vida social das pequenas localidades, como nas urbanas.

HISTÓRIA DAS TABERNAS
A palavra taberna é oriunda do latim e deriva da palavra grega taverna que significava algo como oficina ou barracão. Não se conhece ao certo a origem delas, apenas que eram locais de fechar negócios e degustar bebidas alcoólicas.

Há quem diga que nelas eram servidas diferentes e exóticas refeições; era um local de confraternização onde os amigos se reuniam; ou, que era simplesmente um bar elitizado e que apenas convidados especiais eram clientes.

Reunir-se numa taberna para beber cerveja ou outra bebida alcoólica é uma tradição social de longa data, sabe-se que tal tradição iniciou-se em 3500 a.C, na Suméria, onde o taberneiro era tradicionalmente uma mulher.

O visual rústico toma conta do ambiente cercado de arte por toda a parte. Mesa de madeira, parede de pedra, roda de carroça, barris de vinho, troncos de madeira, archotes, candelabros, velas, balcão de madeira crua, gente rindo, brincando e conversando de posse de copos com bebidas exóticas e porções abundantes de comidas típicas completam o clima de interação e fuga da rotina.
Independente de qual significado é atribuído à palavra taberna e das diversas histórias sobre sua origem, a essência dela é o que nós buscamos para preencher este espaço que cuidadosamente construímos para que você entre, sente, aprecie, saboreie e atice seus sentidos com as variadas formas de arte.

OUTROS ARTIGOS:

Consumos e Socialibidade nas tabernas

Rotas das Tabernas de Coimbra



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