Numa das minhas
curtas idas a Trás-os-Montes, após subir a maravilhosa serra da Padrela, cujo
cenário paisagístico é contagiante, fui-me deleitando com o verde dos campos e
com o cheiro das terras aradas pelos agricultores locais.
Passava mergulhado
numa quietude, que me apazigua a alma, uma terapia para os problemas que logo ali
se esbatem, quando me deparei com um rebanho de ovelhas na estrada que liga Sobrado a São João de Corveira, guardado por um pastor devidamente agasalhado, munido do seu cajado.
Logo estaquei e me
pus a admirar tão bucólico cenário, juntamente com a família que me
acompanhava. Estes quadros naturais são de uma riqueza imensurável, e inestimável,
que devemos guardar nas nossas memórias, pois no meu caso fizeram parte da
minha infância (Tive já o prazer de
escrever uma crónica a respeito dos pastores da minha aldeia, que podem reler
aqui no blog).
Foi enriquecedor, ver
o sorriso daquele pastor, uma pessoa simples e humilde, que guardava as suas
ovelhas junto à estrada e que de uma forma natural nos premiou com o seu
sorriso e simpatia.
Logo se prontificou a
falar um pouco sobre a criação de gado ovino e caprino, as rotinas diárias, os
sofrimentos do dia-a-dia, a forma como negociavam e os locais, quer a venda dos
queijos quer da carne; falou-nos sobre a feira de São Brás, que decorre
anualmente naquela freguesia, onde o visitante pode adquirir vários produtos
regionais e conhecer um pouco a vida pacata daquelas localidades.
Foram apenas alguns
minutos, mas posso assegurar-lhes que aquele homem, com pouca formação escolar,
tem uma formação humana e uma educação que muitos de nós nunca conseguirão
alcançar, mercê da pureza de tão nobre coração. Não vi nele uma ponta de inveja,
de frustração, ou qualquer sentimento negativo, aceita simplesmente a vida conforme
ela é! Foi daqueles que preferiu a vida campestre à emigração, sabendo que viveria
sempre humildemente. Senti-me envergonhado perante tanta nobreza de espírito,
um homem lutador que envergonharia os maiores demagogos do nosso país.
Logo tive um
pensamento e um alívio. Fiquei feliz pelo facto de a pastorícia ainda existir
no Nordeste Transmontano, apesar de os pastores serem cada vez em menor número.
Preparava-me já para
reiniciar a viagem quando o pastor, olhando a face maravilhada da família, me
disse se quiser esteja à vontade: “capte a verdadeira natureza dos campos, da
natureza, dos animais e das suas gentes”, o que fiz com a sua devida
autorização. Tirei fotos aos campos e às ovelhas que pacificamente por ali iam
ruminando as ervas que nasciam no souto, guardadas pelos canídeos.
O quadro não ficaria
completo sem a foto do pastor, pelo que lhe pedi se não se importava que o
fotografa-se, simplesmente sorriu amavelmente e deixou-se à vontade para o
fazer.
O resultado são as duas fotos que junto a esta
pequena crónica de viagem.
Como podem “ler”
(façam-no com alma e sentir-se-ão como eu no momento), viajei naqueles
instantes ao que de melhor tem o ser humano …
(Rebanho
de ovelhas a pastarem no Souto)
(Foto
do pastor credenciado com "carteira profissional", tirada na escola
da vida)
João Salvador - 27/12/2010
In: Crónicas de
um homem do norte - http://joaogomesalvador.blogspot.pt/
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