Buscamos hoje prazeres fugazes
Prazeres dos quais nos fartamos rapidamente… prazeres banais, desprovidos de sentido!
Passamos hoje a nossa vida em busca de
felicidades ilusórias, buscando-a em entretenimentos sem conteúdo, dos quais
nada se retira de verdadeiramente interessante e humano.
É a esse vazio que procuro fugir,
refugiando-me nos valores ancestrais, na educação e nos valores que me foram
incutidos pelos meus pais, pessoas sofridas, moleiros de profissão e jornaleiros,
que outrora habitaram as terras do norte (cuja luz da vida sucumbiu muito cedo).
Tempos idos, mas pessoas humildes,
verdadeiras, extremamente educadas, apesar da rudeza das suas vidas, a qual
provei bem de perto, aquando criança e adolescente.
Mas apesar disso (saudosismos à parte), não
foram tempos perdidos. Antes pelo contrário, nesses tempos os sorrisos
espontâneos, puros e verdadeiros enchiam os adros das igrejas, os largos das
aldeias, onde as crianças polvilhavam cada esquina de vida, saltitando e
vivendo intensamente.
Eram tempos onde os jogos tradicionais, eram
ensinados com mestria entre os mais novos e jogados com prazer!
Sentados nos bancos de pedra encontravam-se
os nossos idosos, pessoas imensamente respeitadas, olhando-nos com os seus
rostos de gente vivida, sorrindo e deleitando-se com a nossa jovialidade!
Os seus olhos límpidos, as suas faces
enrugadas foram sempre uma lição de vida para mim (criança criada nas terras do
norte) para todos que viam nelas um livro de sabedoria, apesar de não dominarem
o dom da leitura e da escrita.
O ser humano é tão mais sábio quanto maior a
sua humildade (saber reconhecer a sua pequenez num universo interminável, do
qual somos apenas uma partícula de pó), alimentada pela experiência das suas
vidas e troca de experiências, fortalecida pelos trabalhos braçais e pela
educação de seus filhos!
Não eram pessoas letradas nem génios dos
livros. Tudo isso era substituído por sentimentos cristalinos e por uma
sabedoria de vida, lida nas suas mãos calejadas!
Não imaginam a paz que me transmite ainda hoje o rosto
dos meus conterrâneos mais idosos e as suas brandas e sábias palavras, que
nunca vou esquecer.
As longas conversas que tive com muitos
deles à porta da taberna da aldeia, onde estes me contavam as suas histórias de
vida, alimentando o meu imaginário.
As suas lutas pela sobrevivência; a criação
de seus filhos; a preocupação com o futuro, o combate às suas mazelas físicas …
Escutava atentamente estas lições da
história das minhas gentes, que enraizaram em mim valores que vão morrendo na
sociedade actual!
Entre outros valores, a honestidade foi algo
que me foi incutido em todos os diálogos que tive com a minha mãe e com as
pessoas mais velhas da aldeia. Era advertido para nunca manchar a minha honra
nem me deixar comprar, pois perderia o que de melhor tinha “uma alma pura”.
Lembra-me da conversa que tive com um dos anciãos (cujo tempo já tragou) me
dizer: “quem vende a alma ao diabo nunca mais alcança o paraíso, torna-se numa
alma perdida!”
Cada alma que se apaga destas gentes com
quem privei é um punhal que se crava no meu peito, pela tristeza que me assola
e me ensombra o espírito!
Os prazeres maiores e mais duradouros
residem nas trocas de sentimentos entre os seres humanos. Sentimentos onde nada
é exigido ao outro, apenas e tão só a pureza do seu coração, o deleite do
prazer sentido nas palavras que nos tocam, emanadas sem ressentimentos, com
amor …
Entristece-me imenso ver esses valores
perdidos: um país abandonado pelos seus governantes, que são apenas abutres
sanguinários, hospedeiros sanguessugas que mataram esta nação histórica,
aproveitando-se dos valores destas gentes, corrompendo-os com falsas promessas
e alimentando-os com prazeres fugazes, facilitismos fantasmas … matando o povo
aos poucos!
Os valores que de facto deveriam ser
ensinados nas escolas, estão perdidos, subvertidos, mas ainda tenho esperança
num mundo melhor!
A honestidade; a verdade; a humildade; a coragem;
o amor; a amizade … esses não são valores que devam ser perdidos. É deles que
deve ser retirados o verdadeiro prazer da vida, pois é neles que se encontra a
essência da verdadeira pureza e natureza humana!
João Salvador - 10/03/2013
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