Após regressar de mais uma manhã de trabalho
agrícola que se desenrolou na “Olga”, resumido ao corte de um castanheiro e
alguns galhos dessas árvores, atacados pela doença que lhes extrai a vida pelas
raízes secando-os e do arranque de algumas ervas daninhas prejudiciais às
terras, era hora do regresso a casa.
Nessa manhã o céu apresentava-se límpido e
soalheiro, bailando o sol pelo azul do céu convidando à meditação e ao amor
pela exuberante natureza que me rodeava.
Os castanheiros e as árvores de fruto
vestem-se de verde, revestidos os castanheiros pelos ouriços que crescem
imponentes.
As macieiras e as pereiras exibem-se
carregadas com frutas suculentas de cores hipnotizantes que apetece devorar.
Muitas dessas árvores de fruto foram
plantadas junto ao ribeiro de onde é utilizada a água que lhes mata a sede e
lhes dá aquela frescura tão bela, embelecida pelo vento que levemente lhes
agita a folhagem dando-lhes a agilidade de uma bailarina.
Nesse regato a água é pura, bebível e com
sabor agradável, mirando-se no seu leito plantas de um verde multicolor e ainda
alguns répteis amistosos que por ali vivem a sua parca existência, mas
seguramente felizes e agradecidos pela sua passagem por este mundo.
No trajecto desde a “Olga” até casa,
deparei-me com os silvados que vestem as partes laterais dos caminhos,
apresentando-se decoradas com as amoras silvestres de vários tamanhos, formas e
cores. Algumas completamente pretas e maduras outras vermelhas e ainda não
comestíveis.
As próprias silvas são de espécies
diferentes sendo que algumas produzem amoras maiores e mais suculentas, com um
sabor bastante adocicado e delicioso!
Havia já aflorado neste blog o tema relativo
às amoras silvestres, mas perante a beleza de tal visão a superabundância de
tão majestoso fruto, decidi deslocar-me à residência onde estava hospedado no
intuito de recolher o maior número possível deste presente silvestre para meu
deleite e dos meus familiares.
Outro dos propósitos era também retratar as
silvas vestidas com as suas folhas e decoradas com as amoras, bem como
exemplificar como se faz uma “camboeira” coisa que os mais novos desconheciam.
Tal método era usado antigamente
principalmente pelos jovens para acondicionar e transportar as amoras que mais
tarde consumiam.
Se assim o pensei, logo o fiz e deslizei
pelo caminho que passa junto à igreja de Santiago, munido de um recipiente,
seguindo em direcção à vinha.
Para meu espanto partes do caminho havia
sido privado das suas silvas, encontrando-se limpo para permitir a passagem de
pessoas, animais e veículos para os campos agrícolas, suspeitando que iria ver
o meu trabalho de recolha mais complicado, o que acabou por não se verificar.
Felizmente a meio do caminho deparei-me com
um manto de silvas impregnadas de amoras silvestres que davam a essa manta uma
beleza peculiar, ondulando suave e caprichosamente ao sabor da brisa leve e
fresca que se fazia sentir no momento.
Inicialmente enchi um recipiente, com uma
calma fugaz, captando a beleza que me rodeava, olhando os campos lavrados, os
soutos limpos, os olivais vaidosos, sentindo os aromas que percorriam o ar,
espalhados pela brisa do vento e que me inundava saudavelmente os pulmões!
O método para apanhar amoras é simples e
nada complexo, apenas deve ser feito calmamente para evitar os picos das silvas
para não se picarem, ainda que a dor seja mínima.
Alguns desses picos agarram-se teimosamente
à roupa ou à pele e tornam-se incomodativos mas toleráveis. Ao mesmo tempo que
colhia os diversos tipos de amoras – nestes silvados descortinei apenas dois
tipos, ia saboreando ao mesmo tempo algumas mais maduras que se desfaziam na
boca sem esforço, sentindo escorrer o líquido que engolia com deleite.
Como referi ao contrário do que possam
pensar as silvas diferem, podendo encontrar-se algumas diferentes, assim como o
são naturalmente o seu fruto – as amoras. Diferem de tamanho, de textura, de
aroma o que pode ser comprovado também através do sabor que é ligeiramente
diferente.
Dá um gozo especial comer algumas amoras ao
mesmo tempo que as colhemos e somos vigiados pela mãe natureza que sorri
perante este quadro pitoresco e rural, que completa com o chilrear de alguns
pássaros – pardais, melros e outros, que poisam nos castanheiros e noutras
árvores que me abraçam carinhosamente num envolvimento maternal.
Fui recompensado pelas brisas libertadoras
que me purgaram por momentos a alma, limpando-me de pensamentos negativos,
levantando no caminho poeiras separadas da terra seca que bailaram num
redemoinho em forma de funil e que logo se esfumou.
Caminhei de regresso a casa mais leve
levitando pelo prazer do contacto e da cópula com a natureza que me fecundou
mais uma vez a alma, alimentando-me o prazer e o gosto de estar em contacto com
a terra.
Segui animado pelos raios de sol, que
rasgaram as parcas nuvens cinzentas que envergonhadas se retiraram sumindo-se
dando lugar apenas ao rei sol.
Munido das amoras e das palhas secas,
imprescindíveis para fazer as camboeiras, escolhi as amoras com melhor textura,
escolhendo ainda as maiores, mais resistentes e mais suculentas, espetando uma
a uma na palha, arrastando-as até ao limite da mesma, onde repousavam prontas a
ser consumidas, até ao limite superior ficando a “camboeira” concluída.
Após terminar a camboeira guardei as amoras
no frigorífico para ficarem mais frescas, conservando-lhes as suas
propriedades, podendo depois consumi-las com iogurte ou sem acompanhamento.
Exibi as camboeiras aos mais jovens que
ficaram assim a saber como se fazia uma camboeira e a razão pela qual
antigamente os jovens as faziam …
Enfim pequenos prazeres campestres que
recomendo a todos vós!
João
Salvador – 10/08/2014
Sem comentários:
Enviar um comentário