Ainda é possível
encontrar em Trás-os-Montes as Tabernas (ainda
que alguns a tenham dado por praticamente extintas nos anos 80/90 do século XX),com os seus típicos balcões de madeira onde repousa a balança
pronta a pesar o ganha-pão do taberneiro. São ainda pontos de encontro das gentes das vilas ou
aldeias do Nordeste Transmontano. Local onde se discutem as culturas das
terras, os seus ganhos ou os seus desenganos, fazendo-se ali alguns negócios
entre os clientes.
Homens enrijecidos
pela dureza da terra e pela labuta diária, ainda que nos tempos modernos as
tarefas estejam mais facilitadas, com a mecanização e massificação da
utilização de tractores, que infelizmente apesar da sua inegável utilidade, ceifam
muitas vidas nas terras do norte, mercê do relevo acentuado, pouco adequado
para a lavoura.
Acompanhados
pelo copo do vinho, servido habilmente pela mão do “Taberneiro” ou “Tasqueiro”,
como alguns o apelidam, as gentes da terra, refugiam-se no licor de Baco (vinho)
para aquecer a alma e combater os rigores Outonais e o diabólico frio do
inverno.
Nestas tabernas
típicas, o cliente pode encontrar desde o copo de vinho, à côdea do pão, aos enchidos,
cerveja e outros produtos.
Nalgumas
tabernas como é o caso da Taberna do “Ti Guilhermino” (um homem de luta, simples, honrado, um trabalhador incansável, amante
das terras, da família, da taberna e das suas gentes) pode adquirir-se uma
grande variedade de produtos além dos que já mencionei, nomeadamente: vários tipos
de guloseimas (devidamente acondicionados
em recipientes), gelados, produtos alimentares, produtos de higiene, cerâmicas,
materiais para a agricultura e até para os afazeres domésticos (púcaros, xícaras,
talheres, etc).
Até há bem pouco
tempo poderiam ser ali adquiridos cântaros, regadores e outros objectos
utilizados antigamente para ir buscar a água à fonte ou para regar as hortas
que ainda podem ser encontradas nos terrenos contíguos a muitas habitações da
aldeia.
A Taberna é
também como disse um ponto de encontro, onde principalmente os homens se juntam
para jogar a sueca ou o chincalhão (jogos
de cartas), usualmente mais ao fim-de-semana, fazendo-o acompanhados pelo
bater das cartas, pela conversa e pela bebida, aliás o único proveito dos
ganhadores, além do convívio naturalmente!
É agradável ver
a cumplicidade e a paixão com que o fazem, compenetrados no baralho e nos
naipes que lhes são entregues, delineando as estratégias de jogo, resmungando
pela sorte lhes ser madrasta, ou resfolgando de felicidade quando a sorte lhes
boceja.
A vida corre por
ali lenta e pachorrenta, numa paz que contagia, aproveitando o taberneiro para
ir enchendo mais umas garrafas de vinho, preparando o elixir para ir servindo aos clientes. Vai ainda
enchendo as prateleiras com os produtos em falta e colocando martinis, favaios,
cervejas (médias e minis) na arca,
para serem servidas quando forem pedidas.
Por vezes não
tem vida fácil o taberneiro. Passar o dia na taberna vendendo cada vez menos,
enregelado, apesar do parco aquecimento da braseira, tendo uma paciência infindável
para ouvir as divagações fantasiosas daqueles que aqueceram em demasia a alma e
caminham cambaleantes e com a visão turva deles próprios, perdidos nas sua cogitações nublosas, mas por vezes engraçadas (pessoas
de bem que se refugiam na bebida pensando resolver as maleitas da alma).
É reconfortante
ver o taberneiro ladeado pelo seu inseparável e fiel amigo, um cão arraçado de
perdigueiro a quem apelida de “Piloto”. Já antes havia tido outro a quem
chamava “Fidel” que o acompanhou durante perto de 16/17 anos, acompanhando a
sua luta diária e da sua mulher, vendo as chegadas e partidas dos filhos (que procuraram terras mais abastadas ou
onde a vida lhes pudesse sorrir) e o crescer dos netos do taberneiro. Infelizmente
o “Fidel” faleceu após muitos anos em que foi um motivo de felicidade de seus
donos. Sofreu muito o pobre animal!

Vive agora o taberneiro
cada vez mais preocupado com o excesso de leis são “paridas” pelos legisladores
que desconhecem a realidade para além dos escritórios, acabando lentamente com
as tabernas, as adegas e outros estabelecimentos tradicionais, não entendendo
os “políticos” (na sua maior parte são
uma espécie pseudo-patriótica, sem moral, espoliadora do erário público, buscam
apenas o seu próprio benefício, pouco escrupulosos e mentirosos compulsivos –
tema que abordarei noutra crónica) que estão a matar as tradições
transmontanas, estrangulando os pequenos negócios que já pouco ganho dá a essa
gente que passa ali os dias para vender umas míseras cervejas ou meia dúzia de
produtos alimentares ou de outra índole.
A Taberna é em
suma um ponto de encontro das gentes da terra onde o convívio, a conversa, o
jogo das cartas e a salutar partilha das experiências da vida é regra, nunca
esquecendo de acompanhar com um dos principais ingredientes a bebida e de
preferência que seja com um copo de vinho bem “cheinho”, acompanhado com uma côdea
de pão um bocado de salpicão, chouriço ou outra iguaria!
Se passarem por
terras Valpacenses façam uma visita às tabernas das aldeias, onde terão à vossa
espera o sorriso sincero do taberneiro que tudo fará para que saiam satisfeitos
de terras de além Marão.
Claro que não
lhes fará mal uma visita a terras de Santiago da Ribeira (concelho de Valpaços),
onde além de serem premiados com uma bela paisagem, podem beber um copinho de
vinho da produção do “Ti Guilhermino”, taberneiro de serviço em tão garbosa
aldeia!
João Salvador – 16/02/2013
Deixo-os com uma breve resenha
histórica sobre a origem das tabernas e a sua definição:
DEFINIÇÕES:
Uma taberna (ou taverna)
é, de uma forma geral, um lugar de negócios ou um bar onde pessoas vão para beber bebidas
alcoólicas e onde
também pode ser servido algum tipo de alimentação. A palavra
deriva, pelo latim taberna,
do gregoταβέρνα, que
significa "abrigo" ou "oficina".
Reunir-se numa taberna para beber cerveja ou
outra bebida alcoólica é uma tradição social de longa data, tendo sido iniciada
no mínimo pelos sumérios (3500 a.C.); na Suméria o taberneiro era tradicionalmente uma mulher, mas em outros lugares e épocas as
mulheres foram completamente excluídas das tabernas.
Em Portugal (onde eram muitas vezes designadas
pejorativamente como tascas), a par dos cafés e das casas de pasto, as tabernas vingaram até os anos 1980 do século XX, tanto nas áreas rurais, onde eram o centro por
excelência da vida social das pequenas localidades, como nas urbanas.
HISTÓRIA DAS TABERNAS
A palavra taberna é oriunda do latim e
deriva da palavra grega taverna que significava algo como oficina ou barracão.
Não se conhece ao certo a origem delas, apenas que eram locais de fechar
negócios e degustar bebidas alcoólicas.
Há quem diga que nelas eram servidas
diferentes e exóticas refeições; era um local de confraternização onde os
amigos se reuniam; ou, que era simplesmente um bar elitizado e que apenas
convidados especiais eram clientes.
Reunir-se numa taberna para beber cerveja
ou outra bebida alcoólica é uma tradição social de longa data, sabe-se que tal
tradição iniciou-se em 3500 a.C, na Suméria, onde o taberneiro era tradicionalmente
uma mulher.
O visual rústico toma conta do ambiente
cercado de arte por toda a parte. Mesa de madeira, parede de pedra, roda de
carroça, barris de vinho, troncos de madeira, archotes, candelabros, velas,
balcão de madeira crua, gente rindo, brincando e conversando de posse de copos
com bebidas exóticas e porções abundantes de comidas típicas completam o clima
de interação e fuga da rotina.
Independente de qual significado é
atribuído à palavra taberna e das diversas histórias sobre sua origem, a
essência dela é o que nós buscamos para preencher este espaço que
cuidadosamente construímos para que você entre, sente, aprecie, saboreie e
atice seus sentidos com as variadas formas de arte.
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ARTIGOS:
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