Passaram já largos anos, sobre as
minhas periódicas deslocações à aldeia de Vassal, terra de onde são naturais
vários dos meus familiares, entre os quais a minha avó e a minha mãe.
Com frequência quando era miúdo deslocava-me
a casa da minha avó, uma casa de pessoas pobres e humildes, mas de gente
imensamente rica em valores os quais incutiram à minha pessoa e aos meus familiares.
Gostava especialmente de explorar
a residência e esconder-me na adega, à qual podia aceder através de um alçapão
situado num dos quartos de arrumos. Era nesses locais que brincava com os meus
primos, passando horas de diversão que me enchiam de felicidade.
Estava sempre expectante com a
chegada dos meus tios de França ou do Brasil que me traziam chocolates. Gostava
especialmente de uns em forma de rebuçado, os chamados “garotos”, penso que
ainda são comercializados.
Admirava os meus tios, e gostava principalmente do Filipe, pois era muito vivido e adorava a caça. Por vezes
aparecia em casa da minha avó com vários coelhos pendurados à cinta e explicava
alegremente como tinha conseguido caçar cada um deles.
Nas curtas visitas que os meus
tios faziam, quando se deslocavam a Portugal com a família, eram para mim
períodos de descoberta. Tudo para mim era novo: a língua portuguesa com sotaque
brasileiro da minha prima que eu tanto adorava e adoro, apesar de não a ver
tanto como gostaria; as roupas novas e perfumadas; os brinquedos, tudo me
enchia de vida, era inebriante, para um jovem que vivia humildemente … mas
feliz!
Adorava os mimos da minha avó
Glória, tratava-me muito bem. Sempre que estava com ela falava-me com meiguice
e deixava-me tratar das galinhas e dos animais que tinha em casa. Gostava
também de fazer “mimos” ao burro que comia na “loja”, depois de “acomodado”
pelo meu tio, ruminando a erva fresca que havia sido colhida nos campos.
Acompanhava também a minha mãe
para os campos que tinha em Vassal. Ia para a vinha e para outros terrenos, onde tinha plantado várias oliveira que
conhecia por “Pinhal” ou para a “Espadana”, que havia-mos herdado da minha avó.
Trabalhava arduamente na vinha, descavando-a; enxertando-a; podando-a;
enxofrando-a, para por fim em finais de Setembro colhermos o doce fruto do
nosso trabalho as uvas de onde extraiamos o vinho. Perto da vinha existia uma mina
de água, onde me podia refrescar, e limpar o suor do esforço despendido. Aproveitava
nas pausas para comer uns figos (quando estes polvilhavam as Figueiras).
Era duro mas agradável … Ademais
as gentes de Vassal, são pessoas de fino trato, educadas e amigas. Muitos deles
são meus familiares, tenho tantos primos naquela aldeia que muitos para minha
infelicidade nem os conheço, visto que as vidas não o permitem.
Num dos terrenos onde me
deslocava com o meu tio “Meno”, colhia frequentemente do regato de águas
límpidas as “merujas” e os agriões com os quais a minha mãe preparava saladas
que muito me agradavam. Gostava especialmente das merujas … adorava voltar a
come-las, já não as saboreio à muitos anos.
A rua da minha avó e a aldeia
dela, era na altura cheia de vida, ao contrário dos tempos presentes. Lembro-me
bem dos rostos de alguns vizinhos cujos nomes apenas relembrei com a ajuda da
Rosa (desde já os meus parabéns ao Gus Vieira pelo grupo criado na internet onde fala sobre
Vassal e as actividades que ali desenvolvem - recomendo uma visita pois vale bem
a pena - https://www.facebook.com/groups/161752160076/?fref=ts),
que conheci recentemente através do Facebook e felizmente me recordou muitos
dos nomes dessas pessoas. Saudades dessas gentes … Sr.Benigno e a Sr.ª Gracinda; Sr.ª
Julieta e o Sr. Amândio Cunha; Sr.ª São e o Sr. Daniel; Sr. Barreira; Sr. José Pequeno
e a Dona Maria; Sr. António Pinto e a Sr.ª Isilda; o Sr. Brás Paradela e a Sr.ª
Ana; a Sr.ª Adelaide Rente; o Sr. Ilídio, o Sr. Hermenegildo e outros mais.
Desses guardo especiais memórias
da Sr. Julieta com quem conversava bastante e que morava bem perto da minha
avó. Era uma senhora muito meiga e carinhosa.
Também me recorda ainda da
taberna do Sr. “Zé Pequeno”, onde por vezes entrava com os meus primos, com os
meus tios ou com os meus irmãos. A esposa do “Ti Zé Pequeno” a Sr.ª Maria era
também uma senhora de quem gostava muito!
Esses longínquos tempos trazem-me
doces recordações que por vezes recordo quando percorro o silêncio da minha mente
e alimento uma felicidade interior sempre que vasculho as minhas memórias.
Outras vezes, ainda que raramente
deslocou-me a Vassal onde converso com o meu primo “Carlos”, visto que
facilmente o encontro no café que explora, falando um pouco sobre o passado,
mas também do presente.
Apesar dos anos que carregamos
nos ombros, existem caras, amizades, conhecimentos e principalmente momentos
que nunca esquecemos e as doces lembranças de Vassal guardo-as também comigo …
Deixo em jeito de conclusão, um
sentimento de especial amor para com as suas gentes que tão bem me trataram desde
a minha infância até aos presentes dias. Não é para mim nada que não fosse
esperado pois é ali a minha segunda casa.
Ficam aqui algumas fotos sobre a
localidade de Vassal que foram retiradas do Facebook, nomeadamente do grupo
Vassal, cujo link está indicado na crónica e ao qual são atribuídos os direitos de
autor.
João Gomes Salvador – 20/07/2013
Belas imagens e palavras amigo, são estas memórias que ficam para toda a vida. Os nomes os lugares as brincadeiras , tudo isto faz parte da nossa vivência, e eu como tu amigo partilho esses tempos pois passei por Vassal grande parte da minha infância e esses tempos jamais se esquecem, ficam as saudades dos meus avós que já partiram o Ti Acácio e a Ti Lucinda como eram conhecidos lá em Vassal que Deus os tenha em bom Lugar.
ResponderEliminarA ti, meu bom amigo agradeço as palavras que escreves-te desta bela e admirável aldeia que posso também chamar de minha.
Abraço deste amigo.
Vitor
Parabéns João,
ResponderEliminarSou a Argentina, filha da Sra. São e do Sr. Daniel. Partilho as mesmas memórias, mas tenho a vantagem de viver perto de Vassal e vou quase diariamente à rua do Cruzeiro com a nostalgia de a encontrar deserta. Resta-me apenas lembrar com saudade a mais de meia centena de seres que poliam os paralelos desta rua onde agora existe a erva seca porque já ninguém deambula por ali.
Eu ainda acredito que Vassal se tornará aquela aldeia onde cresci como tantos outros, porque as origens são as nossas raízes e é daí que nos alimentamos.
Mais uma vez parabéns pelo que escreveu e votos de continuidade na escrita.
Argentina, uma vassalence de corpo e alma.
Mi nombre es (MARIA JOSÉ) mis saludos para tod@s . soy Española no se si comprendeis el idioma si no tendreis que traducirlo ok ? pido disculpas ......yo estoy casada con un hijo de la (SRA ANA ) HERMENEGILDO creo que por los datos que dais sois de la rua del curçeiro tambien y las personas y nombres que dais a mi y a mi marido nos son familiares a todos los conocemos hermenegildo más que yo porsupuesto pues nacio y crecio con esos vecinos JOAO, VITOR , ARGENTINA un abrazo para todos desde España y en este mes de Agosto pensamos ir a Vassal a los que ya no estan en la rua do cruçeiro que descansen en paz
ResponderEliminar