segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Espírito do Natal – Sentimento versus consumismo

Aproxima-se mais uma quadra natalícia, época do ano em que tradicionalmente as famílias se reúnem para celebrar o natal em família.
Em tempos o Natal era vivido efusivamente em torno da mesa de consoada, em amena cavaqueira, contando-se as peripécias vividas no decorrer do ano, enquanto as crianças se divertiam, jogando ao rapa, saltitando ou correndo no exterior da casa, sem medos aos rigores de inverno.

Sanfins

Os adultos esses matavam saudades recordando memórias de outros tempos, ou revivendo as tradições, colaborando na feitura das iguarias e na fogueira de natal, na qual se juntava a aldeia para celebrar a amizade.

Fogueira de Natal

Actualmente o espírito natalício já não é o que era, pois o consumismo desenfreado gelou as almas e foi arrefecendo as tradições.
As prendas muitas vezes caras são trocadas como se de uma obrigação se trata-se, tendo-se muito em conta o que se oferece e o que se recebe. Já não basta um sorriso ou um carinho, até isso tem que ser comprado.
As conversas deram lugar aos telemóveis, aos tablets, aos computadores, aos jogos, ao mundo digital em detrimento do mundo real.
As crianças já não jogam ao rapa, já não saltam, já não correm … já não vivem!
A culpa? Bom acho que é de todos nos que nos acomodamos a viver rodeados por uma multidão de gente amorfa e fantasmagórica afogueada nas suas vidas isoladas, como aliás muitas vezes nós próprios o fazemos. Quantos de nos cumprimentamos um estranho ou brindamos um desconhecido com a nossa simpatia?
Vivemos procurando aceitação, buscando constantemente algo que não entendemos, pois sentimo-nos vazios e apenas preenchidos por momentos fugazes. Afinal que mais somos do que seres que vivem na solidão e que na solidão padecem? Em boa verdade nascemos sós e sós morremos, o corpo é o nosso templo onde habitamos desde os primórdios das primeiras palavras pronunciadas até à exasperação do último suspiro
Se na vida nunca nos sentimos completos e felizes quando temos uma família feliz, um tecto, um emprego, amigos puros e verdadeiros, então quando estaremos completos? Que vida queremos? Que sentimos nesta época festiva – queremos ser felizes? Pois temos que buscar tal felicidade nos pequenos gestos que praticamos diariamente.
O Natal deve ser todos os dias, sem troca de prendas materiais, mas a haver sejam secundárias, bastando tão só a troca de sorrisos, de sentimentos, de amizade e de amor …
Não deixemos que a sociedade nos corrompa a alma e nos mate a vida, busquemos os sentimentos que tradicionalmente nesta época nos enchem de solidariedade e amor e disseminemo-lo pelos restantes dias do ano …
A todo um feliz e santo Natal hoje e todos os dias das nossas vidas!


João Salvador – 22/12/2014

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O ARTESANATO E A GASTRONOMIA EM VILA REAL

De 28 a 30 de novembro - Pavilhão de Exposições da Nervir
A 17ª edição da FAG – Feira de Artesanato e Gastronomia de Vila Real, vai decorrer de 28 a 30 de Novembro, numa organização da NERVIR - Associação Empresarial e da Câmara Municipal de Vila Real. 

A FAG é uma referência, em termos de artesanato e gastronomia na região, contribuindo para a dinamização e valorização dos produtos artesanais, das artes e do comércio tradicional, em detrimento de outras formas de comércio de massas.

Complementa esta edição da FAG, a transmissão, no dia 30 de novembro, do programa Somos Portugal da TVI, que contribuirá para a divulgação do artesanato e da gastronomia presentes, assim como para a divulgação do que de melhor Vila Real e a região, têm para oferecer. 

A FAG 2014 tem entrada livre e abre ao público no dia 28 de novembro às 16H00, nos dias 29 e 30 de novembro, abre às 10H00.

https://www.facebook.com/NERVIR?fref=photo

sábado, 8 de novembro de 2014

Almas errantes


Na imensidão da alegria festivaleira, surgem rostos transfigurados, deambulando perante uma multidão errante, qual almas penadas, sem rumo … sem destino!

Mentes manipuladas sabiamente por usurpadoras de corações que usam a sedução do seu corpo para transformar as almas em bonecos de trapos esfarrapados, sem um pingo de sentimento, cujas ordens acatam prontamente. Cumprem religiosamente o que lhes é exigido através de um sorriso malévolo.

O olhar de tais homens torna-se inexpressivo, inexistente, opaco, escuro como o breu, tornam-se automatizados … robotizados, meros corpos andantes sem sonhos!

Almas contagiadas pelas mentes perversas de mulheres esganiçadas, nada esbeltas, mas dotadas de um poder manipulatório estonteante, alarmante e perigoso, causando tais habilidades inveja ao próprio belzebu.

É angustiante ver homens outrora cheios de valores, bondosos, honestos, dialogantes se transformem agora em seres mudos, sem vida, em nada …

Essas almas cujos laços os uniam ao amor familiar, amigos, e a todos que o respeitavam e amavam, perderam-se na imensidão de um mar de maldade, criado por um ser diabólico que agora atormenta as almas que controla!

Dali já nada brota, os canteiros com túlipas plantadas pelo amor de quem venerava tais almas murcharam, morreram de dor, perante a indiferença, o desprezo, a angústia … uma realidade que enjoa quem presencia tal quadro cujas pinceladas ditaram o destino de seres outrora pensantes.

Essas almas foram de tal forma enclausuradas nas garras de uma ave maliciosa, que sobrevou a sua presa como um necrófago, cuja alma pertence diabo, tendo perdido o contacto com a realidade!

Que salvação tem uma alma atormentada por sonhos obscuros, ladeado por pantanosos pensamentos, errante pelas trevas que o aprisionam em si? Existe uma solução dolorosamente penosa. Deixar que rume até à sua própria perdição, caindo no abismo da sua mente atormentada até ao ponto que separa o amor da desilusão da loucura e resgata-lo ainda que recolhendo os cacos do seu coração esfarrapado em fiapos muito pequenos, espoliado do amor-próprio e dos bens de que foi aliviado pela diabólica mulher que o sugou até ao osso, trazendo-o de volta à vida.

Tal consegue-se possivelmente através da compreensão, do amor incondicional de quem tudo perdoa, até o desprezo silencioso – ainda que não voluntário, que corta o coração de quem o sente, numa angústia dilacerante, maltratado pela alma resgatada que procura trazer novamente à realidade.

Os embriões dos sentimentos foram cortados não à nascença, não pelas mãos da parteira mas pelas mãos impuras de uma rameira esquelética sugadora de sonhos, destruidora de vidas que se alimenta da ignorância, da fraqueza da carne das almas perdidas!

O amor deve ser puro, consentido, carinhoso, compreensivo, partilhado, sentido na alma e no coração, não é interesseiro … vivido nos corações onde de onde jorra um amor cristalino, translúcido como as águas dos riachos das montanhas ainda puras. Se o não for é puro veneno que contagiará a alma e a mente e matará quem sente!


João Salvador – 10/08/2014

Ruina humana


A ruína humana é uma realidade em muitas vidas destruídas pela incúria irresponsável dos próprios arruinados que padecem de falta de amor-próprio.
Iludidos por esbeltas palavras envenenadas, presos à hipnose do poder carnal que mal conhecem, vivem suas almas algemadas ao veneno de afrodites camufladas em santas beatificadas.

A desilusão trespassa como uma lança afiada aqueles que com a sua clarividência vêem a maldade das trevas a apoderar-se de corações inocentes, outrora puros e felizes, agora impregnados de bactérias de invejas, ganância, altivez e maus sentimentos, que corroem por dentro o ser humano, matando-lhe a bondade.

Ainda que se tente extrair o veneno das víboras, estas protegidas pela loucura do amor enfeitiçado, e pela loucura do iludido, pavoneia-se vitoriosa pelas ruelas da malvadez, espalhando um falso sorriso que cativa e aprisiona os mais desprevenidos. Rastejam essas cobras esbeltas, envenenando a felicidade alheia, matando-a lentamente, destruindo laços de amizade, de camaradagem e até familiares …

Essa raça de afrodites venenosas, povoam um mundo decadente da qual se alimentam, extraindo através dos seus ardis tudo aquilo que necessitam para viverem uma existência desafogada, sem qualquer pudor em pisar um ser humano que lhes caia nas garras.

Ver o olhar de alguém perdido, sem brilho, qual um fantasma cambaleante e perdido, caminhando errante vivendo para si e para a Afrodite venenosa, desprezando a própria prol, a família e os amigos, provoca uma revolta, uma repulsa tal que a ira alcança a mente dos mais devotos budistas que buscam a iluminação e a vêem esfumar-se perante tanta maldade!

Estas almas vivem sonâmbulas, entristecidos, enganados. No seu íntimo vivem apenas alimentados pelo veneno que os controla, dando-lhes a sensação de um bem-estar inexistente no mundo real, mas que habita a sua imaginação enganada pelo olhar pérfido de uma deusa que não o é!

O vírus espalha-se de uma forma alarmante, perdendo aos poucos a alma que é vendida ao diabo ao desbarato. Quem ama essas almas apesar de não deixar de lutar para os conduzir à luz da razão, sente vontade de desistir de lutar perante a imensidão de tal poder, pois os corações são já nutridos pelo veneno que lhes corre nas veias de quem se preza e é difícil curar tal maleita.


João Salvador – 09/08/2014

domingo, 28 de setembro de 2014

Olhares da indiferença


Dei-me conta dos olhares de indiferença e mesmo de repúdio, que muitos têm para com aqueles que desgraçadamente pedem um pouco de pão para a sua boca ou dos filhos. São fulminados como se de leprosos se trata-se, são escorraçados como cães dos locais de convívio, onde os mais abastados se banqueteiam tomando o pequeno-almoço, sentindo-se incomodados com a desgraça alheia. Mas será que estas almas estão perdidas, não possuem sentimentos? Não imaginam que o curso da vida as pode transportar também a elas para o abismo? 


Olhei nos olhos aquela alma, que olhava a vitrina, esfomeado, lambendo os lábios e olhado de soslaio por grande parte das pessoas que ali se encontravam, repudiando-o, maltratando-o com palavras afiadas que maltratam sentimentos já de si feridos. Quis conhecer a história deste homem que deambulava por ali pedindo esmola. Tinha intenção de saber se era um "pedinte profissional" ou um homem cuja desgraça lhe bateu à porta, causada por políticas miseráveis, que destruíram tantas vidas. Este foi mais um caso. Ficou desempregado ele e a mulher, após tantos anos de labuta, sendo mais um dos casos em que se é demasiado novo para a reforma e velho para trabalhar. 

Uma lição para todos, não julguem a desgraça alheia, pois um dia pode ser a vossa e querereis que vos estendam a mão ... não se trata de caridade trata-se de ser mais humano. 

Não o salvei das garras da misérias, mas pelo menos aplaquei-lhe a fome e podem estar certos que apenas fiz o que está certo! Não com intenções de o demonstrar a terceiros, pois trata-se de algo que está enraizado nos meus valores e na minha condição humana. Se me senti bem ao fazê-lo, naturalmente que sim. Mas acima de tudo senti-me bem ao denotar as faces de vergonha de todos aqueles que olharam com desprezo aquele pai que infelizmente pede apenas porque não encontra trabalho, apesar de o procurar insistentemente. Será que as pessoas já não conhecem a palavra solidariedade?

O mais interessante é que os mais solidários, são usualmente os que menos têm, pois esses são os mais humilhes. 

Quando passarem na rua, não olhem para o lado, encarem a realidade, analisem cada caso, pois além dos pedintes profissionais que por ai proliferam existe gente de bem que passa fome. Gente de uma educação superior a muitos que frequentam cursos universitários e se arrogam senhores dos destinos alheios, mas que no fundo são uns "merdas" que nada sabem da vida!



João Salvador - 29/09/2014

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Beleza de uma região

A beleza de uma terra, está nas suas paisagens, nas suas gentes, na sua cultura, no seu modo de olhar a vida, o renascer de cada dia ... 
Pessoas com alma translúcida que calcorrearam montes e vales, que plantaram, semearam, cultivaram, labutaram, suaram, viveram e vivem com orgulho naquelas terras dos seus antepassados, cujas histórias lhes alimenta o coração humilde! 
As terras de seus pais, de onde retiram o sustento para si e para a sua prol, os olivais se onde extraem o ouro puro que banha os alimentos; a vinha de onde retiram o néctar de Baco e tantos outros produtos que vendem para outras regiões. 
São essas mesmas terras as suas memórias e as de seus filhos ...


João Salvador - 25/09/2014



Fica aqui um vídeos sobre a terra de Miguel Torga


Video promocional 2002



quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Valpaços - Festas de Nª Srª da Saúde 2014

Fica aqui o programa das grandiosas festas da Nossa Senhora da Saúde que se realizam em Valpaços entre os dias 30 de Agosto e 07 de Setembro. 


Fonte: http://valpacosnoticias.blogspot.pt/2014/08/valpacos-festas-de-n-sr-da-saude-2014.html?spref=fb

Visite ainda a páginas do facebook: 
https://www.facebook.com/Blogue.NoticiasdeValpacos

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Memórias roubadas

A vida esconde em si muitos prazeres e alegrias. O viver é já de si uma graça divina ou do acaso que nos permite contemplar o nosso próprio ser.

O respirar, o cheirar, o sentir a brisa do vento fresco a bater na face, os banhos de sol … tudo isso desse ser absorvido, pois cada momento é mágico e único!
(Na bica de Sanfins com 5/6 anos)

Assim o são as memórias, algumas mais doces, outras mais amargas. Memórias algumas que não são nossas e que não conhecemos, que rezam nos livros de história ou na memória dos anciãos.

O nascimento é um momento de júbilo e de alegria. Os pormenores do nascimento de uma criança são sempre eloquentes e apreciáveis. 

Faz 41 anos que nasceu uma criança numa aldeia do interior, cuja semente germinou de um amor separado pela morte, mas que perdura na existência deste ser que narra estas palavras.

Estava contemplando a bica, onde jorra a água límpida que sacia a sede dos residentes e que outrora serviu de vigia e consolo aos namoros que ali brotaram. 

Estando imbuído nas minhas memórias, deambulando pelos olivais, pelos silvados, pelos pinhais e pelos lugares das lembranças ali vividas, quando surge a Dona Maria, senhora emigrada em França há 42 anos.

O seu rosto sorridente, não esconde as rugas que se passeiam orgulhosamente no seu rosto, sulcadas pela vida e pelos caminhos que trilhou. Vive hoje martirizada e presa a um fardo a que a vida a votou, mas que carrega com tenacidade e com uma coragem desmedida!

Entabulei diálogo, recordando memórias dos tempos em que visitava a aldeia e quando eu ainda ali habitava, recordando-os com deleite!

Notei uma certa mágoa no seu rosto, desmistificada pela mudança nas personalidades dos mais próximos e até dos vizinhos, espelho dos tempos conturbados que se avizinham em que os valores humanos ferem e cortam corações sedentos de carinho …

Recordou-me através das suas palavras aquele dia soalheiro de Agosto de 1973 (do qual não me lembro naturalmente) quando me viu nascer. 

Pormenorizou a azáfama da parteira que gritava ordens em todas as direcções, aguardando pelo capricho da minha saída para a luz, abandonando o consolo do ventre materno.

Os suores, as dores suportadas por aquela guerreira que deu vida a este ser, parindo em condições precárias mais um filho que deve a sua existência a uma semente de última hora. Nas suas palavras vi o nascimento de mim mesmo, um pequeno ser enrugado, ensanguentado mas uma dádiva divina, uma vida! 
(Imagem retirada da net)

Nesse mesmo dia apagou-se a luz da alma da D. Augusta e acendeu-se outra que vive hoje agradecendo aquela mãe a vida que trouxe ao mundo!

Sem ela não teria sentido o gosto da existência, não conheceria os aromas, os amores, os desamores, a alegria, a tristeza, os sons, a beleza das palavras, nem estaria certamente sentado na varanda olhando o horizonte recortado pelos montes escrevendo estas palavras.

Todos nascemos e como tal o espírito de partilha deve prevalecer. O dom da vida é em si algo maravilhoso, grandioso e divino, pois além das almas que germinaram na nossa existência, somos seres pensantes que amam e choram …

João Salvador – 20/08/2014

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Amoras Silvestres II

Após regressar de mais uma manhã de trabalho agrícola que se desenrolou na “Olga”, resumido ao corte de um castanheiro e alguns galhos dessas árvores, atacados pela doença que lhes extrai a vida pelas raízes secando-os e do arranque de algumas ervas daninhas prejudiciais às terras, era hora do regresso a casa.

Nessa manhã o céu apresentava-se límpido e soalheiro, bailando o sol pelo azul do céu convidando à meditação e ao amor pela exuberante natureza que me rodeava.

Os castanheiros e as árvores de fruto vestem-se de verde, revestidos os castanheiros pelos ouriços que crescem imponentes.

As macieiras e as pereiras exibem-se carregadas com frutas suculentas de cores hipnotizantes que apetece devorar.

Muitas dessas árvores de fruto foram plantadas junto ao ribeiro de onde é utilizada a água que lhes mata a sede e lhes dá aquela frescura tão bela, embelecida pelo vento que levemente lhes agita a folhagem dando-lhes a agilidade de uma bailarina.

Nesse regato a água é pura, bebível e com sabor agradável, mirando-se no seu leito plantas de um verde multicolor e ainda alguns répteis amistosos que por ali vivem a sua parca existência, mas seguramente felizes e agradecidos pela sua passagem por este mundo.

No trajecto desde a “Olga” até casa, deparei-me com os silvados que vestem as partes laterais dos caminhos, apresentando-se decoradas com as amoras silvestres de vários tamanhos, formas e cores. Algumas completamente pretas e maduras outras vermelhas e ainda não comestíveis.
As próprias silvas são de espécies diferentes sendo que algumas produzem amoras maiores e mais suculentas, com um sabor bastante adocicado e delicioso!

Havia já aflorado neste blog o tema relativo às amoras silvestres, mas perante a beleza de tal visão a superabundância de tão majestoso fruto, decidi deslocar-me à residência onde estava hospedado no intuito de recolher o maior número possível deste presente silvestre para meu deleite e dos meus familiares.



Outro dos propósitos era também retratar as silvas vestidas com as suas folhas e decoradas com as amoras, bem como exemplificar como se faz uma “camboeira” coisa que os mais novos desconheciam.

Tal método era usado antigamente principalmente pelos jovens para acondicionar e transportar as amoras que mais tarde consumiam.

Se assim o pensei, logo o fiz e deslizei pelo caminho que passa junto à igreja de Santiago, munido de um recipiente, seguindo em direcção à vinha.

Para meu espanto partes do caminho havia sido privado das suas silvas, encontrando-se limpo para permitir a passagem de pessoas, animais e veículos para os campos agrícolas, suspeitando que iria ver o meu trabalho de recolha mais complicado, o que acabou por não se verificar.

Felizmente a meio do caminho deparei-me com um manto de silvas impregnadas de amoras silvestres que davam a essa manta uma beleza peculiar, ondulando suave e caprichosamente ao sabor da brisa leve e fresca que se fazia sentir no momento.

Inicialmente enchi um recipiente, com uma calma fugaz, captando a beleza que me rodeava, olhando os campos lavrados, os soutos limpos, os olivais vaidosos, sentindo os aromas que percorriam o ar, espalhados pela brisa do vento e que me inundava saudavelmente os pulmões!

O método para apanhar amoras é simples e nada complexo, apenas deve ser feito calmamente para evitar os picos das silvas para não se picarem, ainda que a dor seja mínima.

Alguns desses picos agarram-se teimosamente à roupa ou à pele e tornam-se incomodativos mas toleráveis. Ao mesmo tempo que colhia os diversos tipos de amoras – nestes silvados descortinei apenas dois tipos, ia saboreando ao mesmo tempo algumas mais maduras que se desfaziam na boca sem esforço, sentindo escorrer o líquido que engolia com deleite.

Como referi ao contrário do que possam pensar as silvas diferem, podendo encontrar-se algumas diferentes, assim como o são naturalmente o seu fruto – as amoras. Diferem de tamanho, de textura, de aroma o que pode ser comprovado também através do sabor que é ligeiramente diferente.  

Dá um gozo especial comer algumas amoras ao mesmo tempo que as colhemos e somos vigiados pela mãe natureza que sorri perante este quadro pitoresco e rural, que completa com o chilrear de alguns pássaros – pardais, melros e outros, que poisam nos castanheiros e noutras árvores que me abraçam carinhosamente num envolvimento maternal.

Fui recompensado pelas brisas libertadoras que me purgaram por momentos a alma, limpando-me de pensamentos negativos, levantando no caminho poeiras separadas da terra seca que bailaram num redemoinho em forma de funil e que logo se esfumou.

Caminhei de regresso a casa mais leve levitando pelo prazer do contacto e da cópula com a natureza que me fecundou mais uma vez a alma, alimentando-me o prazer e o gosto de estar em contacto com a terra.

Segui animado pelos raios de sol, que rasgaram as parcas nuvens cinzentas que envergonhadas se retiraram sumindo-se dando lugar apenas ao rei sol.
Munido das amoras e das palhas secas, imprescindíveis para fazer as camboeiras, escolhi as amoras com melhor textura, escolhendo ainda as maiores, mais resistentes e mais suculentas, espetando uma a uma na palha, arrastando-as até ao limite da mesma, onde repousavam prontas a ser consumidas, até ao limite superior ficando a “camboeira” concluída.






Após terminar a camboeira guardei as amoras no frigorífico para ficarem mais frescas, conservando-lhes as suas propriedades, podendo depois consumi-las com iogurte ou sem acompanhamento.

Exibi as camboeiras aos mais jovens que ficaram assim a saber como se fazia uma camboeira e a razão pela qual antigamente os jovens as faziam …

Enfim pequenos prazeres campestres que recomendo a todos vós!

João Salvador – 10/08/2014

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Episódios da meninice II – Banhos de Domingo


Os anos oitenta foram na minha infância anos de ouro, as aldeias viviam decoradas pelos sorrisos e brincadeiras das crianças, cujos sons percorriam os montes e vales com os seus ecos de alegria, contagiando a própria natureza que abraçava a aldeia.
Década em que ali ainda habitavam muitos catraios, filhos de gentes da terra, que retiravam o seu sustento dos solos que cultivavam.
Os filhos dos lavradores frequentavam a escola primária e quando terminavam a escolaridade grande parte deles seguiam os estudos nas vilas onde estavam localizadas as escolas preparatórias e secundárias, o que ainda hoje se verifica, apesar da quantidade de escolas fechadas no interior.
Uma política cuja aposta na minha óptica apenas contribuiu para a desertificação de uma terra muito rica culturalmente, onde predomina a agricultura e os serviços.
Uma terra de muitos berços, onde brotaram valores como a humildade; o espírito de entre-ajuda; o companheirismo; o sorriso puro; a preocupação com a felicidade alheia e muitos outros.
Valores ali nascidos e nos quais os filhos da terra os interiorizaram, bafejando com a sua educação os locais para onde emigraram, seja para o estrangeiro seja para o litoral.
Uma política de terra queimada, onde o fecho das escolas é a consequência natural da falta de apostas na natalidade e na criação de condições para a criação da “canalha” (crianças).
Nessa época, era usual partir-se em expedições domingueiras em pequenos grupos, percorrendo os caminhos agrícolas, os lameiros e os pomares em busca de novas descobertas.
Os ninhos das aves que nidificavam; as maçãs que se iam retirando das árvores e se comiam; os grilos capturados com mestria e que eram depois guardados em embalagens previamente furadas para permitir o seu canto, que se silenciava quando apanhados.
Tudo era pretexto para o entretenimento a coberto de um sol radioso de verão, que esquentava os corpos franzinos das crianças, convidando-os a banhos.
O suor banhava os corpos sedentos pela frescura da orla dos rios, onde os amieiros; os carvalhos; os pinheiros e até os negrilhos que ladeavam davam guarida a quem buscava a sua sombra.
Buscava-se na orla dos rios (locais onde crescia a erva misturada com as flores silvestres que cobriam com o seu manto o solo), o cheiro a terra que inundava as nossas narinas. 
Um cheiro a natureza no seu estado puro, que se purifica com as águas límpidas e translúcidas dos rios e riachos nordestinos.


Nas memórias ainda não muito longínquas, recordo-me como se fosse hoje os mergulhos que dávamos no “poço das pinheiras” (por vezes noutros locais: nos moinhos, nas escadavadas, no rigueiral ou onde houvesse um local que o proporcionasse nas descobertas dos exploradores de fim-de-semana), um local com uma profundidade considerável e que permitia aos mais afoito mergulhar das rochas que beijavam o rio.
Quando somos crianças não se medem os riscos, mas a verdade é que conhecíamos bem o local e todo o fundo do leito foi cartografado pelas memórias daqueles que antes de nós frequentavam aquele local, indicando onde se encontravam as rochas submersas.
Os banhos ocupavam toda a tarde de domingo, baixando o nível de energia que era reposto com algum pão que algum mais prevenido levava numa bolsa cujo lanche havia sido preparado pela mãe.
Havia sempre solução, pois tínhamos sempre a possibilidade de penicar uma uva mais madura que já “pintasse” ou comer alguma fruta encontrada nos campos agrícolas, mas claro que não era suficiente para saciar a fome, essa era combatida em casa onde se aconchegava depois o estômago.
Não tínhamos preocupações de estética ou de moda, cada um usava o que tinha: cuecas; calções de banho ou como ocorria algumas vezes apenas a roupa com a qual nascemos, a pele.
Após as purgas que limpavam o corpo da transpiração, as toalhas eram uma doce cama onde por momentos (poucos) se apanhavam banhos de sol, que muitas vezes irrompia por entre o arvoredo, banhando partes diferentes ao sabor do vento fresco que amenizava o calor sufocante que muitas vezes se fazia sentir!
Essas brincadeiras de criança, no caso que aqui afloro, os banhos no rio, eram dos maiores prazeres que os rapazes da aldeia tinham nos finais de semana, após cumprirem uma semana de estudo e de labuta campestre na ajuda aos seus pais.
Memórias tão puras e angelicais que causam um saudosismo tão doce que alimenta o nosso espírito e que nos limpa de energias negativas. 
Escrevendo estas linhas, regressei ao passado e aos banhos de verão … Certamente que estas memórias são tão comuns a muitos de vós, mas nunca serão banais, pois cada um sentiu um verdadeiro prazer na sua inocência e nessas brincadeiras partilhadas com amigos que em muitos casos não mais viram, fruto do rumo das vidas …

João Salvador – 28/07/2014

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Comportamento humano



  

Os anos vão passando e a deterioração da sociedade segue a passos largos para um abismo sem retorno. Não vou aqui voltar a falar na perda de valores que está à vista de todos nós, apenas constatar o que todos já conhecem – o egocentrismo, o interesse apenas pelo “eu”; pelos interesses próprios mesmo que com prejuízo para familiares; amigos ou colegas de trabalho.
É gritante a forma desrespeitosa, vergonhosa e de falta de camaradagem que alguns seres humanos, se é assim que se podem chamar, aqueles que sem qualquer pejo passam por cima de tudo e de todos, prejudicando vidas de terceiros que possuem também estes vida pessoal, olhando apenas e tão só para o seu umbigo.
O mais alarmante é a dualidade de critérios verificada de maneira grotesca por aqueles que têm a responsabilidade de travar tais abusos, mas que não o fazer por razões que ultrapassam por vezes o entendimento de quem tenta perceber tais atitudes, mas obviamente não as pode aceitar.
Vive-se num mundo de atropelos, onde vale tudo, mesmo prejudicar pessoas que são leais e buscam o bom ambiente, seja ele laboral, emocional, familiar ou de outra índole!
Ressalvo aqui que todos possuem uma identidade e personalidade própria e que naturalmente é necessário adaptação ao modo de ser e de estar de cada um (todos erram – uma vez entende-se e pode aceitar-se como não premeditado desde que não planeado), mas para isso é necessário diálogo e entendimento entre todos!
Essas pessoas tomam esse tipo de atitudes conscientes e sabendo que prejudicam terceiros, sem estarem preocupados que possa ou não ter repercussões graves, ou menos graves – isso é o que menos importa, passeando-se altivamente como se nada fosse lançando sorrisos de hipocrisia que roçam o nojo, transformando tais seres em fantasmas asquerosos, seres a evitar, o que acaba por destrui amizades e camaradagem entre colegas de trabalho.
A lealdade e a camaradagem devem ser cultivadas por todos, no entanto tal está em decrescente e cada um olha apenas para o seu nariz.
Aqueles que procuram uma boa relação interpessoal e são frontais enfrentam um jorro de críticas daqueles que vivem da hipocrisia, exigindo aos outros aquilo que não praticam, mudando as regras a seu belo prazer, assessorados por quem devia travar atitudes menos recomendáveis. Acompanha por vezes essa hipocrisia um cinismo bajulador que faz perder a paciência a um santo.

Como se costuma dizer, o ser humano habitua-se a todos os ambientes hostis, no entanto também se sabe que todo o ser humano tem o seu limite, quando assiste a injustiças que o assistem a si ou a outros, pois felizmente ainda existem aqueles que procuram o bem comum e não apenas o seu bem-estar pessoal.
A sanidade mental é afectada por todos estes episódios diários que se vão acumulando até à exaustão da paciência de qualquer um, tendo picos de “loucura” que levam à pronuncia de palavras menos abonatórias aos escroques que intencionalmente prejudicam aqueles que muitas vezes lhe dão de “comer” e os apoiam.
Que raio de sociedade é esta? Estamos rodeados de bajuladores, idolatradores de líderes decadentes; hipócritas com ares de superioridade e de bem saber; seres rastejantes que sorvem o mérito alcançado não pelo que produzem mas pelo que conseguem subtrair ao hospedeiro; por indivíduos que omitem a sua verdadeira natureza comportamental, enfim … apetece dizer Puta que pariu esta sociedade decrépita, e peço sinceras desculpas por este impropério mas ás vezes é preciso gritar contra estes filhos de uma mãe que os gerou no ventre com amor, mas cujo veneno criado nos seus corpos lhes matou o pingo de respeito que deveriam ter pelos outros e principalmente por eles próprios, pois a dignidade à muito que a perderam.

Fica o desabafo de mais um entre muitos insatisfeitos com o rumo que leva a caravela do comportamento humano …


João Salvador – 18/07/2014