terça-feira, 19 de agosto de 2014

Amoras Silvestres II

Após regressar de mais uma manhã de trabalho agrícola que se desenrolou na “Olga”, resumido ao corte de um castanheiro e alguns galhos dessas árvores, atacados pela doença que lhes extrai a vida pelas raízes secando-os e do arranque de algumas ervas daninhas prejudiciais às terras, era hora do regresso a casa.

Nessa manhã o céu apresentava-se límpido e soalheiro, bailando o sol pelo azul do céu convidando à meditação e ao amor pela exuberante natureza que me rodeava.

Os castanheiros e as árvores de fruto vestem-se de verde, revestidos os castanheiros pelos ouriços que crescem imponentes.

As macieiras e as pereiras exibem-se carregadas com frutas suculentas de cores hipnotizantes que apetece devorar.

Muitas dessas árvores de fruto foram plantadas junto ao ribeiro de onde é utilizada a água que lhes mata a sede e lhes dá aquela frescura tão bela, embelecida pelo vento que levemente lhes agita a folhagem dando-lhes a agilidade de uma bailarina.

Nesse regato a água é pura, bebível e com sabor agradável, mirando-se no seu leito plantas de um verde multicolor e ainda alguns répteis amistosos que por ali vivem a sua parca existência, mas seguramente felizes e agradecidos pela sua passagem por este mundo.

No trajecto desde a “Olga” até casa, deparei-me com os silvados que vestem as partes laterais dos caminhos, apresentando-se decoradas com as amoras silvestres de vários tamanhos, formas e cores. Algumas completamente pretas e maduras outras vermelhas e ainda não comestíveis.
As próprias silvas são de espécies diferentes sendo que algumas produzem amoras maiores e mais suculentas, com um sabor bastante adocicado e delicioso!

Havia já aflorado neste blog o tema relativo às amoras silvestres, mas perante a beleza de tal visão a superabundância de tão majestoso fruto, decidi deslocar-me à residência onde estava hospedado no intuito de recolher o maior número possível deste presente silvestre para meu deleite e dos meus familiares.



Outro dos propósitos era também retratar as silvas vestidas com as suas folhas e decoradas com as amoras, bem como exemplificar como se faz uma “camboeira” coisa que os mais novos desconheciam.

Tal método era usado antigamente principalmente pelos jovens para acondicionar e transportar as amoras que mais tarde consumiam.

Se assim o pensei, logo o fiz e deslizei pelo caminho que passa junto à igreja de Santiago, munido de um recipiente, seguindo em direcção à vinha.

Para meu espanto partes do caminho havia sido privado das suas silvas, encontrando-se limpo para permitir a passagem de pessoas, animais e veículos para os campos agrícolas, suspeitando que iria ver o meu trabalho de recolha mais complicado, o que acabou por não se verificar.

Felizmente a meio do caminho deparei-me com um manto de silvas impregnadas de amoras silvestres que davam a essa manta uma beleza peculiar, ondulando suave e caprichosamente ao sabor da brisa leve e fresca que se fazia sentir no momento.

Inicialmente enchi um recipiente, com uma calma fugaz, captando a beleza que me rodeava, olhando os campos lavrados, os soutos limpos, os olivais vaidosos, sentindo os aromas que percorriam o ar, espalhados pela brisa do vento e que me inundava saudavelmente os pulmões!

O método para apanhar amoras é simples e nada complexo, apenas deve ser feito calmamente para evitar os picos das silvas para não se picarem, ainda que a dor seja mínima.

Alguns desses picos agarram-se teimosamente à roupa ou à pele e tornam-se incomodativos mas toleráveis. Ao mesmo tempo que colhia os diversos tipos de amoras – nestes silvados descortinei apenas dois tipos, ia saboreando ao mesmo tempo algumas mais maduras que se desfaziam na boca sem esforço, sentindo escorrer o líquido que engolia com deleite.

Como referi ao contrário do que possam pensar as silvas diferem, podendo encontrar-se algumas diferentes, assim como o são naturalmente o seu fruto – as amoras. Diferem de tamanho, de textura, de aroma o que pode ser comprovado também através do sabor que é ligeiramente diferente.  

Dá um gozo especial comer algumas amoras ao mesmo tempo que as colhemos e somos vigiados pela mãe natureza que sorri perante este quadro pitoresco e rural, que completa com o chilrear de alguns pássaros – pardais, melros e outros, que poisam nos castanheiros e noutras árvores que me abraçam carinhosamente num envolvimento maternal.

Fui recompensado pelas brisas libertadoras que me purgaram por momentos a alma, limpando-me de pensamentos negativos, levantando no caminho poeiras separadas da terra seca que bailaram num redemoinho em forma de funil e que logo se esfumou.

Caminhei de regresso a casa mais leve levitando pelo prazer do contacto e da cópula com a natureza que me fecundou mais uma vez a alma, alimentando-me o prazer e o gosto de estar em contacto com a terra.

Segui animado pelos raios de sol, que rasgaram as parcas nuvens cinzentas que envergonhadas se retiraram sumindo-se dando lugar apenas ao rei sol.
Munido das amoras e das palhas secas, imprescindíveis para fazer as camboeiras, escolhi as amoras com melhor textura, escolhendo ainda as maiores, mais resistentes e mais suculentas, espetando uma a uma na palha, arrastando-as até ao limite da mesma, onde repousavam prontas a ser consumidas, até ao limite superior ficando a “camboeira” concluída.






Após terminar a camboeira guardei as amoras no frigorífico para ficarem mais frescas, conservando-lhes as suas propriedades, podendo depois consumi-las com iogurte ou sem acompanhamento.

Exibi as camboeiras aos mais jovens que ficaram assim a saber como se fazia uma camboeira e a razão pela qual antigamente os jovens as faziam …

Enfim pequenos prazeres campestres que recomendo a todos vós!

João Salvador – 10/08/2014

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