sábado, 24 de novembro de 2012

Apanha de medronhos


Passeio pela orla do rio

Naquela manhã caminhava calmamente pela beira do rio “torto” em Sanfins, observando e sentindo a presença da natureza a penetrar a minha pele; o meu corpo e todo o meu ser. 

Os sons característicos dos pássaros que esvoaçavam despreocupados, namorando os céus com uma intensidade de vida contagiante.

Andava eu como o fazia frequentemente quando criança, junto aos moinhos antigos, agora abandonados, um dos quais de meus país. 
Pensamentos melancólicos e de saudade afloravam-me na memória.

(Moinho abandonado)

Como me sentia bem ali, sorvendo cada pedaço da natureza, cada partícula daquele oxigénio puro que se entranhava e me polvilhava de vida purificando-me a alma.

Estava no mês de Outubro e o meu maior propósito naquele passeio, prendia-se com o reviver o aroma dos frutos silvestres, que na minha infância e adolescência por ali encontrava. Ainda conhecia (e ainda conheço) os locais onde cresciam os medronheiros, um arbusto ou pequena árvore de folha perene, que ostenta cores e empresta sabores aos matagais e florestas mediterrânicos.  

Passava na orla do rio, junto a uma zona íngreme  onde o rio se estrangulava numa garganta apertada, precipitando-se num abismo, espalhando gotículas pelas margens, quando avistei finalmente o local onde antes me deleitava por momentos a contemplar os silêncios e aromas da mãe natureza.


Memórias do meu palácio


Uma rocha em forma de casa, junto ao rio, com uma entrada suficientemente grande, pela qual me podia introduzir naquela rocha oca. Dirigi-me para ali e recordei as brincadeiras de criança. Fiquei deveras contente por verificar que ainda ali restavam indícios de objectos por mim ali deixados. Pedaços de madeira esculpida; pinhas; lápis; papelões e partes de uma guitarra de plástico, que me havia sido oferecida pela minha mãe, tinha eu 7 anos. Foi tão bom rever aquele local místico, o meu palácio, que eu havia ornamentado e escondia do resto do mundo. Era o meu universo, onde me presenteava com o imaginário, divagando por mundos por mim sonhados e vividos em pensamentos que me alegravam a existência. O interior da pedra é acolhedor e possui uma espécie de janela para o exterior e uma espécie de pedra rectangular, onde eu comia os medronhos que apanhava ali perto.

Foi bom recordar aquele meu “palácio secreto” onde sonhei em criança. Mas o que me transportou aquelas paragens, localizadas perto do moinho de meus pais, foi o encontro com o medronheiro situado junto a um sobreiro; alguns carvalhos e arbustos de diversas espécies a pouco mais de 200 metros do moinho já devoluto.


O meu medronheiro

Uma alegria contagiante percorreu-me a alma. Ali estava ele o “meu” medronheiro, uma pequena árvore semelhante a um arbusto com cerca de 2 metros de altura, ostentando uma copa oval segura pelos seu ramos grossos, suportada por um troco delegado com uma casca pardo-acinzentada/avermelhada, mas já muito gretado e escamoso.

Exibia orgulhosamente os seus frutos globosos; granulosos e eriçados, apresentando a sua cor avermelhava (já maduros), apelando a serem colhidos e degustados. Até o medronheiro ficou feliz com a minha presença, visto ter passado tantos anos privado da minha presença. Acho até que os seus frutos exalaram um cheiro mais intenso e as suas folhas brilharam com mais intensidade!



Maravilhei-me com aquela visão, mas não me fiz rogado e iniciei a colheita e a degustação deste fruto que se come prazeirosamente  No entanto este fruto apresenta um teor alcoólico considerável, pelo que convém não abusar!

O medronheiro para quem desconhece, floresce entre o Outono ou nos princípios do Inverno. A maturação dos frutos ocorre no Outono do ano procedente. É nesta época, devido ao facto de a floração e a maturação dos frutos do ano anterior ser simultânea, que o medronheiro se cobre de uma "veste" colorida de grande beleza. Nas suas cores podemos encontrar o verde brilhante das folhas, o branco das flores e os frutos que são inicialmente amarelos, tornando-se vermelhos com a sua maturação.

Quem se quiser aventurar, pode sempre deslocar-se nesta época às aldeias e perguntar onde existem medronheiros que alguém os saberá informar. Felizmente Portugal é rico neste fruto, podendo ser encontrado em várias serras nacionais. Parta à aventura como eu o fiz, descubra o medronheiro e delicie-se com este fruto


Deixo aqui algumas informações sobre o medronheiro e as suas variadas utilizações, espero que seja útil …



Medronheiros e medronhos


 O medronheiro é um arbusto ou pequena árvore de folha perene, que empresta cores e sabores aos matagais mediterrânicos. É particularmente conhecido pela aguardente de medronho preparada a partir dos seus frutos.
  
TAXONOMIA
O medronheiro (Arbutus unedo L.) pertence à família das Ericaceas, partilhando-a com as urzes (Erica sp.).

CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS
É um arbusto ou uma árvore de pequena dimensão. Pode atingir os 8 a 10 m de altura ainda que usualmente não ultrapasse os 5 m.
O tronco possui um ritidoma (casca) pardo-avermelhada ou pardo-acinzentada, delgada, gretada, muito escamosa, caduca em pequenas placas nos exemplares mais velhos.
A sua copa tem uma forma oval com ramos grossos.
As folhas são persistentes (existem folhas na copa durante todo o ano), grandes (medem 4 a 11 cm), com pecíolo curto, alternadas, coriáceas, glabras, lustrosas e verde-escuras na página superior e mais claras na página inferior, serrilhadas ou subinteiras. São muito parecidas com as do loureiro.

As flores são pequenas, com um cálice curto e corola gamopetala, urceolada, esverdeadas, reunidas em cachos (ramalhetes) compostos, terminais e pendentes. Debaixo do ovário, encontramos 10 estames inseridos num disco.
Os frutos são baciformes, globosos, granulosos ou eriçados na superfície, medem entre 20 a 25 mm, de cor avermelhada quando maduros, com sementes pequenas, angulares e de cor castanha.
Floresce no Outono ou no princípio do Inverno. A maturação dos frutos ocorre no Outono do ano procedente. É nesta época, devido ao facto de a floração e a maturação dos frutos do ano anterior ser simultânea, que o medronheiro se cobre de uma "veste" colorida de grande beleza. Nas suas cores podemos encontrar o verde brilhante das folhas, o branco das flores e os frutos que são inicialmente amarelos, tornando-se vermelhos com a sua maturação.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
Distribui-se por uma vasta área na bacia mediterrânica, excepto na orla costeira do Sudoeste de Espanha e na área que vai desde Tunis até ao Sul da Turquia. A sua área de distribuição inclui também todo o território de Portugal continental, o Norte de Espanha, as regiões das Landes e da Bretanha em França e a zona ocidental da Irlanda.
No nosso país, as maiores manchas situam-se nas Serras de Monchique e do Caldeirão.

CONDIÇÕES AMBIENTAIS
É uma espécie que aparece consociada às Quercíneas, particularmente ao sobreiro e à azinheira, ocorrendo nos montados e em zonas de matos resultantes da sua degradação. Crescem tanto em solos ácidos como alcalinos mas preferem que sejam profundos e frescos. Aparecem até aos 1200 m de altitude. O seu clima favorito é suave e sem geadas fortes.

UTILIZAÇÕES
O medronheiro é explorado, sobretudo nas Serras de Monchique e do Caldeirão, para a produção de aguardente. Esta é chamada de "aguardente de medronho", um produto regional sempre apresentado com brio no cabaz dos produtos regionais do Algarve. A sua cultura esteve parada durante várias décadas, tendo ressurgido com o aumento da rendibilidade da actividade de produção desta aguardente. Para tal facto contribuiu a utilização de máquinas como as escavadoras (buldozers) que permitiram cortar os medronheiros pela sua base o que estimula a rebentação pela cepa (zona do caule junto ao solo que "sobrevive" ao corte). O pico de produção verifica-se no 3º ano da planta, mantendo-se a níveis economicamente viáveis durante mais 5 a 8 anos. Ao fim de 15-20 anos, torna-se necessário removê-los para que sejam substituídos. Esta remoção, realizada nos moldes acima explicados, ainda que seja rápida e pouco onerosa provoca o arrastamento das camadas superficiais do solo com a sua consequente maior susceptibilidade aos agentes erosivos.
 O fruto é comestível e com ele pode-se preparar uma aguardente de excelente qualidade (aguardente de medronho). As folhas são usadas na medicina popular pelas suas propriedades diuréticas e anti-sépticas. As folhas e a casca são muito ricas em taninos e eram usadas para curtir peles. A sua madeira é apreciada para fabricar carvão vegetal.

Esta espécie aparece, normalmente, com porte arbustivo, podendo no entanto, com a idade e quando as condições ecológicas são favoráveis, aparecer como pequena árvore.
A produção do medronheiro é, apesar de tudo, bastante irregular dado que está dependente de dois factores aleatórios, alheios a qualquer medida de gestão: as geadas e a existência de anos de safra e contra-safra (grande produção de fruto e baixa produção de fruto em anos sucessivos). Os medronhos (frutos) são destilados em alambique, sendo necessários 15 kg para produzir 15 l de aguardente.
As folhas e casca do medronheiro contêm taninos que são utilizados para curtir as peles e, na medicina popular, para curar as diarreias, as desinterias e as infecções urinárias.
A sua madeira constitui um excelente combustível sendo também boa para tornear.

CURIOSIDADES
Qual a origem das designações do género Arbutus? E do epíteto específico unedo ?
São ambas antigas denominações romanas nas quais Lineu se baseou para atribuir este nome à planta. O primeiro é o diminuitivo de arbor e significa arbusto. Alguns autores discordam e afirmam que a origem etimológica encontra-se no termo celta, arbois que significa áspero, rude, aludindo aos seus frutos.
A resposta à segunda pergunta pode ser encontrada no facto de os seus frutos, ainda que comestíveis, possuírem um sabor desagradável (quando verdes). Unedo significa "um e mais nenhum" e foi adoptado para esta espécie de modo a avisar os mais temerários que o desejem provar, de que não gostarão de repetir a experiência uma segunda vez.
Os medronhos são também famosos pela capacidade de provocar embriaguez e dor de cabeça a quem consome muitos, uma vez que quando maduros, possuem uma certa quantidade de álcool.

Atenção: Os medronhos são também famosos pela capacidade de provocar embriaguez e dor de cabeça a quem consome muitos, uma vez que quando maduros, possuem uma certa quantidade de álcool.

Curiosidades:
Aguardente do Medronho:
A aguardente de medronho (medronheira) é produzida a partir dos frutos com o mesmo nome (medronho) que se cultivam nas serranias do Algarve. Pode dizer-se que é uma bebida regional. No entanto também se produz noutras zonas do país, embora em menos quantidade.


A produção
A fruta é fermentada em tanques de madeira ou barro. Actualmente a fermentação também se faz em depósitos de cimento, mas só em destilarias de significativa dimensão. A fermentação é natural e dura entre trinta a sessenta dias. Os tanques devem ser cobertos com frutos esmagados para evitar o contacto com o ar. É necessário adicionar uma parte de água para cinco partes de fruta. Depois de fermentado o produto deve ser guardado durante sessenta dias e bem protegido do ar. Hoje em dia existem destilarias semi-industriais. No entanto, a melhor aguardente é aquela que é produzida por destilação descontínua (fogo directo).
Uma boa aguardente de medronho é transparente, com o cheiro e o gosto da fruta.
Nas montanhas, uma boa aguardente deve ter 50º.
No entanto a sua comercialização faz-se entre os 40º e 50º.
                           
 Envelhecimento
A qualidade da aguardente aumenta quando esta é amadurecida/envelhecida em barris durante oito anos. Este período de envelhecimento não deverá ser prolongado por mais tempo pois não terá qualquer efeito na qualidade da aguardente.
O medronho bebe-se, normalmente, com o café. Os puristas consideram que deve ser bebido à temperatura ambiente, embora algumas pessoas prefiram bebê-lo frio.
O famoso licor algarvio Brandymel é feito com medronho.
           
Uma lenda...
 HISTÓRIA DO PEDIDO QUE O DIABO FEZ A DEUS
O Diabo julgava-se inteligente e andava sempre à espreita para ver se apanhava alguém distraído para pregar as suas partidas.
Um dia ele, pensando que Deus estivesse distraído, fez o seguinte pedido:
- Ó Senhor, vós que possuis tantas árvores oferecei-me duas, o medronheiro e a laranjeira.
O Senhor disse-lhe:
- Pede as árvores quando não tiver flor nem fruto.
Mas a laranjeira e o medronheiro têm sempre flor ou fruto, se calhar até as duas coisas ao mesmo tempo. Por causa disso, o Diabo nunca mais pode voltar a falar nessas duas árvores.


Licor de medronho

Medronhos apanhados, lavadinhos e prontos para o preparado.


É necessário 1 litro de álcool para licor
1 kilo de medronhos
1 kilo de açúcar (eu utilizo açúcar amarelo)


Há várias maneiras de preparar o licor,
 1.º Mistura-se o álcool e os medronhos
2.º Um mês depois acrescenta-se 1,5 kg de açúcar amarelo
3.º Aguarda-se mais um mês filtra-se o licor retirando-se os medronhos.
4.º Deixa-se apurar mais dois meses e pode saborear.


Fontes:http://naturlink.sapo.pt/Natureza-e-Ambiente/Fichas-de-Especies/content/Medronheiros-e-medronhos?bl=1
http://www.rio-dao.de/home-pt.html

sábado, 10 de novembro de 2012

Magusto

CONVIDE OS AMIGOS...

E mantenha a tradição! 

O Magusto é uma festa popular, cujas formas de celebração divergem um pouco consoante as tradições regionais. Grupos de amigos e famílias juntam-se à volta de uma fogueira onde se assam castanhas ou bolotas para comer, bebe-se a jeropiga, água-pé ou vinho novo, fazem-se brincadeiras, as pessoas enfarruscam-se com as cinzas, cantam-se cantigas. 
O magusto realiza-se em datas festivas: no dia de São Simão, no dia de Todos-os-Santos ou no dia São Martinho. Inúmeras celebrações ocorrem não só por Portugal inteiro mas também na Galiza (onde se chama magosto, em galego) e nas Astúrias.

(Castanhas assadas)

A celebração do magusto está associada a uma lenda, a qual dizia que um soldado romano, mais tarde conhecido por Martinho de Tours, ao passar a cavalo por um mendigo quase nu, como não tinha nada para lhe dar, cortou a sua capa ao meio com a sua espada; estava um dia chuvoso e diz-se que, neste preciso momento, parou de chover, derivando daí a expressão: "Verão de São Martinho".

Nalguns locais do Norte do país considera-se o magusto como o vestígio de um antigo sacrifício em honra dos mortos e refere que nalgumas aldeias era tradição preparar, à meia-noite, uma mesa com castanhas para os mortos da família irem comer; ninguém mais tocava nas castanhas porque se dizia que estavam “babadas dos defuntos”.


Através de: https://www.facebook.com/AldeiasPortugal

Apanha de cogumelos

Nesta época muitos transmontanos dedicam-se à apanha dos cogumelos, procurando-os nos pinhais, nos lameiros, nas florestas e nos soutos.

A terra húmida, coberta por mantos de folhas que alimentam os solos, são os ingredientes essenciais para que os cogumelos das mais diversas variedades cresçam e se desenvolvam.

As gentes procuram-nos nos montículos de terra (no caso das pinheiras ou míscaros amarelos), procurando assim um complemento alimentar ou um suplemento monetário nas suas parcas economias, visto que muita gente aprecia os cogumelos e paga bom dinheiro por uma refeição acompanhada por este pitéu.
   
Nos meus tempos de juventude também eu saia de casa pela manhã juntamente com os meus irmãos em animada cavaqueira e íamos apanhar cogumelos para depois nos refastelarmos com um refogado de “pinheiras”; “rocas”; “frades”; “mijacões”; “roques”; “Míscaros”; “repolgas”, entre outros (os nomes comuns variam de região para região e a mesma espécie pode ter vários nomes), feito pela minha mãe que tinha uma mão muito apurada para a cozinha.

Nos soutos, são as repolgas que reinam e que tanto aprecio e que avidamente procurava, mas é uma espécie mais difícil de ser encontrada. Este cogumelo tem um sabor característico, sabe um pouco a carne de vitela, mas é delicioso.
Uma das coisas que mais gostava de fazer em termos gastronómicos com os "roques" era de  coloca-las na grelha e deixa-las apurar na brasa, regadas depois com um pouco de azeite.



Voltando à apanha, utilizávamos usualmente um pau, para revolver a manta morta e todos os obstáculos que pudessem esconder tão apetecível petisco.
Visualizávamos cogumelos de diversas cores mas alguns deles não comestíveis, restando-nos mirar a sua beleza e contraste de cores que salpicam os solos (regra geral venenosos).
É aliás necessário conhecer bem essa “arte”, pois durante a minha juventude, conheci vários casos de intoxicação por consumo de cogumelos venenosos e alguns infelizmente fatais (ou seja em caso de dúvida não coma os cogumelos). Foi a minha mãe e os anciãos da aldeia que me ensinaram os que são comestíveis e aqueles que devia evitar.
Infelizmente os casos de intoxicação são recorrentes e tende a agravar-se em épocas de crise em que as pessoas, muitas vezes sem conhecerem as espécies, se dedicam à apanha de cogumelos como um complemento para a sua alimentação, sem conhecimento aprofundado das espécies.

Exemplos de cogumelos venenosos ou não comestíveis:





Darei aqui um pequeno contributo recorrendo a algumas fotos de espécies comestíveis, falando também de uma das espécies mais conhecida.
Visitem ainda o grupo no facebook Sanfins VLP no link: https://www.facebook.com/media/set/?set=a.126842474044208.19054.100001553679726&type=3, onde o Paulo nos presenteou com algumas fotos dos cogumelos comestíveis que são mais conhecidos na nossa aldeia.

(Rocas, roques ou frades)

(Rocas ou roques)

 (Niscaros amarelos)

Pinheiras

(Roques) 

 (Pinheiras no solo)

(Repolga)

Existem também vários certames gastronómicos e culturais nesta altura do ano  no Nordeste Transmontano e noutras zonas do país (bastando fazer uma pesquisa na internet para encontrar alguns), nos quais podem participar, ficando a conhecendo os cogumelos que podem ingerir e os venenosos, aproveitando para provar esta iguaria da mãe natureza, utilizada em variadíssimos pratos de culinária.


Uma das espécies mais conhecida:
Uma das variedades mais consumidas e conhecidas em Trás-os-Montes são as pinheiras ou Sanchas (Lactarius deliciosus), este cogumelo tem um chapéu, inicialmente convexo, toma-se posteriormente plano e espalmado ou obcónico e ligeiramente recurvado, com um diâmetro de 5 a 15 cm. É cor de laranja, vermelho-claro ou vermelho-tijolo e com frequência ligeiramente acastanhado; a cutícula do chapéu apresenta zonas anelares concêntricas e com a humidade toma-se um pouco viscosa. A carne quebradiça vai de esbranquiçada a rosa-pálido ou amarelada; quando danificada segrega uma seiva alaranjada ou cor de cenoura.
As lâminas apertadas e decorrentes têm comprimentos diferentes; a sua cor vai do laranja-claro ao laranja-avemelhado, mudando sobretudo para esverdeado
quando velhas ou quando tocadas. 
Encontra-se sobretudo em florestas coníferas e, nestas, de preferência debaixo dos pinheiros bravos, preferindo solos calcários; aparecem entre Novembro e Dezembro.

As pinheiras ou sanchas 
são seguramente dos cogumelos mais apanhados em Portugal e uma das espécies em que as pessoas têm mais confiança. Há muitas pessoas que apenas apanham esta espécie. Mesmo assim, há que ter cuidado. Tenho encontrado um cogumelo muito semelhante sob os sobreiros (mas facilmente identificável pois por baixo do chapéu é branco). Desconheço se é comestível ou não, mas em caso de dúvida nunca o apanhei e consumi.
As sanchas crescem nos pinhais idosos. Eu prefiro procurá-las nas bordas dos pinhais, principalmente nos locais mais húmidos.
Apesar do seu nome deliciosus (delicioso), não é dos meus cogumelos preferidos. Tem um sabor muito característico e intenso.

Os cogumelos e a economia:
Os cogumelos são hoje um dos recursos naturais endógenos do nordeste transmontano que merece a nossa maior atenção pelo seu valor ecológico, gastronómico e económico. Os cogumelos silvestres existem em diversidade e abundância nos solos da região transmontana, especialmente e como já referi em zonas de floresta, sendo que grande parte das espécies sempre fizeram parte da gastronomia local. Míscaros, roques, sanchas, pinheiras, míscaros amarelos, orelhas de gato e boletos, os nomes vulgares pelos quais são conhecidos são os mais comuns e mais apreciados na mesa dos transmontanos. Existem dezenas de espécies de cogumelos de diferentes cores e tamanhos na região, a grande maioria são comestíveis.
Contudo, nos últimos anos e, graças ao interesse crescente por este produto natural, o seu incremento na gastronomia tem tido um significativo incremento devido às suas variadas aplicações desde entradas a acompanhamentos e pratos principais. Os cogumelos têm um sabor único, inconfundível e capaz de proporcionar verdadeiras iguarias. A esta procura na cozinha tem, paralelamente acrescido, um interesse comercial. No Outono e Primavera, épocas de excelência deste produto, muitas são as pessoas que se dedicam à apanha do cogumelo para venda. O negócio movimenta milhares de euros por ano na região e o destino dos cogumelos continua a ser a vizinha Espanha e França, países muito apreciadores deste produto. Recentemente foi introduzida em Portugal legislação que regulamenta a apanha do cogumelo nas florestas e terrenos privados de forma a travar a apanha desenfreada das espécies comestíveis. Para a aplicação dessa legislação muito contribuiu o trabalho da Associação Micológica a “Pantorra” sedeada em Mogadouro e que tem como principal objectivo a preservação, valorização e divulgação do património micológico. Esta associação, com a colaboração de várias universidades fez a inventariação de todas as espécies de cogumelos na região e tem promovido vários encontros micológicos em todo o distrito. A Pantorra acredita que este produto endógeno, que é noutros países fortemente valorizado, pode contribuir para uma estratégia de revitalização económica e social das zonas rurais, bem como para a gestão sustentável dos recursos naturais. Atualmente já existem no distrito projetos pilotos de plantação de cogumelos silvestres em soutos onde as duas culturas crescem em simbiose e podem ter dupla rentabilização económica. A par disso, é também no distrito de Bragança, mais concretamente no concelho de Vila Flor, que está sedeada uma das maiores empresas de produção de cogumelos da Europa: a Sousacamp. Esta empresa é responsável por 80 por cento da produção nacional de cogumelos e exporta para vários países europeus com especial destaque para Espanha, Holanda e França.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A cultura da castanha



Por esta altura do ano os agricultores da terra fria, debatem-se com a apanha da castanha e com a falta de mão-de-obra.
Numa época em que a crise assola o nosso país não consigo perceber a razão pela qual muita gente nas próprias aldeias se recusam a trabalhar, principalmente os mais novos. 
A questão é que muitos habituados a receber subsídios e cursos de formação que muitas vezes de nada servem preferem ficar tardes nas tascas como a do Sr. Guilhermino em Santiago da Ribeira - Valpaços a beber cerveja e a jogar as cartas. 
Apesar de não ser natural da terra da castanha, o meu berço conflui com as terras frias, tendo eu encontrado a minha cara-metade por aquelas paragens. Já à alguns anos que esporadicamente vou ajudando sempre que ali me desloco na apanha das castanhas, ou antes da época na limpeza dos castanheiros. No decorrer das podas verifico que muitos galhos e castanheiros inteiros têm vindo a secar, tratando-se de um fenómeno que os engenheiros agrícolas ainda não sabem explicar, debatendo-se para encontrar uma solução para a doença que atinge o castanheiro. É um verdadeiro flagelo para quem vê os soutos a serem polvilhados pela doença, obrigando-os a replantar novos castanheiros.
As tarefas são cansativas é certo mas rentáveis quando a natureza premeia o agricultor com uma boa produção de castanha.
Este ano de 2012 a castanha é grande e saborosa, compensando o esforço do agricultor. 
A procura da castanha é diária e vendida a preços que ultrapassam os dois euros o quilograma.
A realidade é que em pouco tempo eu que até não sou nada experiente na apanha da castanha consegui apanhar 50 Kg juntamente com o meu filho, que diga-se não é dado a estas lides, mas gosto que ele tenha contacto com a realidade da terra e com a força braçal que é necessárias para se cumprirem as tarefas agrícolas (nunca se sabe o dia de amanhã). 
As novas gerações cada vez mais têm que entender que nem toda a gente pode ser Doutor e que o mais importante é ganhar a vida honradamente sem estar à espera que o estado subsidie, a preguicite aguda que os atinge, muito por culpa nossa que os protegemos em redomas de vidro, afastando-os da realidade da vida!
Naturalmente que para quem não está habituado, andar algumas horas derreado a apanhar castanhas e a picar as mãos (nos ouriços onde as castanhas crescem), ainda que usando luvas é uma tarefa cansativa e não muito agradável, mas a vida é feita disto mesmo. Nada se consegue sem esforço e abnegação. Assim fui ensinado. 
Como disse no início desta crónica, lastimo ver que os produtores de castanha têm imensa dificuldade em contratar mão-de-obra, ainda que paga a preços que podem oscilar entre os 30/50 euros, tendo que a procurar em terras como Montalegre.
Mas a verdade é que os jovens cada vez estão mais mal habituados à dureza da vida, gostam de títulos pomposos e empregos bem pagos sem esforço físico, pois os trabalhos braçais são custosos. Mas não enxergam a realidade, pois cada vez são mais os doutores com canudos e desempregados. 
Ainda que seja trabalho sazonal, será que não lhes faria bem renderem-se aos trabalhos que lhes aparecem com humildade, para amealharem algum dinheiro? 
Actualmente a castanha é um fruto que é destinado na sua maioria à exportação e rende anualmente cerca de 50 a 60 milhões de euros aos produtores. Portugal pode vir a ser um líder europeu na produção de castanha, o que a nível económico seria uma mais-valia para quem a produz (recomendo a esse propósito a leitura deste texto: http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2011/10/10.htm).
Enfim … 
De qualquer forma sugiro que façam visitas aos certames que vão aparecendo no Nordeste Transmontano, como é o caso de Carrazedo de Montenegro e de Bragança (entre outros). 

                        

Venham conhecer as tradições de Trás-os-Montes as suas gentes e a sua cultura.



João Salvador – 02/11/2012