sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A cultura da castanha



Por esta altura do ano os agricultores da terra fria, debatem-se com a apanha da castanha e com a falta de mão-de-obra.
Numa época em que a crise assola o nosso país não consigo perceber a razão pela qual muita gente nas próprias aldeias se recusam a trabalhar, principalmente os mais novos. 
A questão é que muitos habituados a receber subsídios e cursos de formação que muitas vezes de nada servem preferem ficar tardes nas tascas como a do Sr. Guilhermino em Santiago da Ribeira - Valpaços a beber cerveja e a jogar as cartas. 
Apesar de não ser natural da terra da castanha, o meu berço conflui com as terras frias, tendo eu encontrado a minha cara-metade por aquelas paragens. Já à alguns anos que esporadicamente vou ajudando sempre que ali me desloco na apanha das castanhas, ou antes da época na limpeza dos castanheiros. No decorrer das podas verifico que muitos galhos e castanheiros inteiros têm vindo a secar, tratando-se de um fenómeno que os engenheiros agrícolas ainda não sabem explicar, debatendo-se para encontrar uma solução para a doença que atinge o castanheiro. É um verdadeiro flagelo para quem vê os soutos a serem polvilhados pela doença, obrigando-os a replantar novos castanheiros.
As tarefas são cansativas é certo mas rentáveis quando a natureza premeia o agricultor com uma boa produção de castanha.
Este ano de 2012 a castanha é grande e saborosa, compensando o esforço do agricultor. 
A procura da castanha é diária e vendida a preços que ultrapassam os dois euros o quilograma.
A realidade é que em pouco tempo eu que até não sou nada experiente na apanha da castanha consegui apanhar 50 Kg juntamente com o meu filho, que diga-se não é dado a estas lides, mas gosto que ele tenha contacto com a realidade da terra e com a força braçal que é necessárias para se cumprirem as tarefas agrícolas (nunca se sabe o dia de amanhã). 
As novas gerações cada vez mais têm que entender que nem toda a gente pode ser Doutor e que o mais importante é ganhar a vida honradamente sem estar à espera que o estado subsidie, a preguicite aguda que os atinge, muito por culpa nossa que os protegemos em redomas de vidro, afastando-os da realidade da vida!
Naturalmente que para quem não está habituado, andar algumas horas derreado a apanhar castanhas e a picar as mãos (nos ouriços onde as castanhas crescem), ainda que usando luvas é uma tarefa cansativa e não muito agradável, mas a vida é feita disto mesmo. Nada se consegue sem esforço e abnegação. Assim fui ensinado. 
Como disse no início desta crónica, lastimo ver que os produtores de castanha têm imensa dificuldade em contratar mão-de-obra, ainda que paga a preços que podem oscilar entre os 30/50 euros, tendo que a procurar em terras como Montalegre.
Mas a verdade é que os jovens cada vez estão mais mal habituados à dureza da vida, gostam de títulos pomposos e empregos bem pagos sem esforço físico, pois os trabalhos braçais são custosos. Mas não enxergam a realidade, pois cada vez são mais os doutores com canudos e desempregados. 
Ainda que seja trabalho sazonal, será que não lhes faria bem renderem-se aos trabalhos que lhes aparecem com humildade, para amealharem algum dinheiro? 
Actualmente a castanha é um fruto que é destinado na sua maioria à exportação e rende anualmente cerca de 50 a 60 milhões de euros aos produtores. Portugal pode vir a ser um líder europeu na produção de castanha, o que a nível económico seria uma mais-valia para quem a produz (recomendo a esse propósito a leitura deste texto: http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2011/10/10.htm).
Enfim … 
De qualquer forma sugiro que façam visitas aos certames que vão aparecendo no Nordeste Transmontano, como é o caso de Carrazedo de Montenegro e de Bragança (entre outros). 

                        

Venham conhecer as tradições de Trás-os-Montes as suas gentes e a sua cultura.



João Salvador – 02/11/2012

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