A inocência ainda acompanhava a
mente daqueles jovens que frequentavam a Escola Preparatória de Valpaços.
Os anos esses, situavam-se na década
de 80, mais precisamente no ano lectivo de 86/87. Uma turma de pré-adolescente,
que desconheciam ainda as suas verdadeiras vocações e vontades. Cada um com a
sua personalidade em formação, ou já delineada, percorrendo os sulcos de uma
vida escolar ainda longe de terminar.
As manhãs começavam com o cumprir
do calendário escolar, interrompidas pelo fornecimento do pequeno almoço aos
alunos mais carenciados. Um copo de leite gordo com açúcar e uma sandes de
manteiga, acomodavam os estômagos, deixando os alunos satisfeitos.
O almoço era também um momento de
lazer, aproveitado para a convivência e o estudo, quer nos corredores, quer em
qualquer recanto do edifício principal ou junto das salas de aulas, situadas
nos pré-fabricados.
As condições eram de facto
precárias, mas nem isso, nem o frio do inverso impiedoso, nem o sol escaldante,
demoviam a boa disposição e alegria dos alunos.
Em cada momento de intervalo, os
rapazes aproveitavam para jogar à bola no recreio, o que trazia por vezes
alguns dissabores, com janelas partidas e reprimendas do conselho directivo.
Era também usual brincarem à
corrida de carros, improvisando pistas na terra, simulando a formula 1.
Enquanto isso as meninas dedicavam-se a outras brincadeiras e também, visto
serem mais aplicadas, aos estudos.
Nessa época, não existia
ostentação, luxo, vaidade exagerada. A conjugação de roupas, não era, pelo
menos no meu caso o mais importante. Acima de tudo a limpeza e a roupa sem
buracos, isso sim era o mais importante!
Muitos de nós residíamos nas
aldeias que rodeavam a vila, tendo como horizonte os aglomerados das casas agrícolas,
os campos e os montes perfumados.
Com algumas excepções de colegas nascidos
no estrangeiro, o que de mais grandioso conhecíamos era a vila de Valpaços,
onde passávamos toda a semana nas aulas. Os transportes públicos eram escassos,
pelo que cedo tínhamos que madrugar.
Fizesse chuva ou sol, frio ou
calor, saia de casa de manhã, fazendo a pé 2 quilómetros até à paragem do
autocarro e posteriormente, no final do dia o percurso inverso. Admito que não
era custoso, pois a adaptação aos rigores climatéricos, pareciam-me à data mais
fáceis do que o são hoje, pois considero que com a modernidade e o comodismo, qualquer contrariedade
climatérica nos afecta.
Nesse tempo, chegava a casa ou à
escola molhado, mas não me queixava. A lareira, era a redenção, o aconchego, o
lar o paraíso, a família o éden.
Naturalmente que como rapaz,
traquina e irrequieto, fazia algumas tropelias, mas nada de gravoso ou
demasiado reprovável. Algumas brigas de rapazes, vidros partidos, materiais
danificados por negligência ou mero descuido.
O professor Castro de trabalhos
manuais, era para mim à época dos mais disciplinadores, implacável, mas justo.
As lições de vida que me deu ainda as guardo na memória, como guardo o cinto feito
de fios de cordel, que fiz na sua sala de trabalhos manuais.
Recordo-me de muitos dos colegas
que comigo privaram na Escola Preparatória, outros nem tanto e ainda outros que
não me recordo mesmo. Muitos encontrei-os, furtivamente, aquando das
deslocações à aldeia. Nalguns casos revejo outros durante as férias, já que estão emigrados ou noutras regiões do país. Outros contacto-os com frequência, visto saber
onde residem e moram. Felizmente que aqueles dos quais nunca tive notícias, vou
sabendo agora deles através das redes sociais.
Foi pois, com prazer que me revi
na foto que junto a esta crónica, onde pude matar saudades daqueles anos
despreocupados, felizes e que fazem parte do meu percurso de vida!
João Gomes Salvador – 26/05/2016
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