sábado, 2 de fevereiro de 2013

AMORAS SILVESTRES


(Recolha de amoras silvestres - Aquando do passeio "Trilho dos Moinhos" em Sanfins)

Na busca pelas minhas memórias, regressei aos caminhos agrícolas, que me levavam aos terrenos da família como é o caso do moinho e ao vale de corças, este último ainda cultivado pelo meu primo (a quem agradeço de coração – já que é o único legado que me liga ao meu berço, além das amizades que ainda tenho na aldeia), já que a distância me impede de o fazer.
Era por esses caminhos poeirentos de verão mas toleráveis na primavera, que buscava as amoras silvestres que prazeirosamente e cuidadosamente recolhia, deleitando-me de imediato com algumas delas.
Tratava de fazer várias “camboeiras” (amoras acondicionadas numa palha) para conseguir transportar o maior número possível de amoras silvestres para casa.
Utilizava frequentemente ervas altas e já secas que colhia nas bermas dos caminhos, removendo os pequenos filamentos envoltos na “palhinha” já preparada, para conseguir furar as amoras e acondiciona-las.
Quando chegava a casa logo tratava de as lavar e colocar numa malga. Se a vida o permitia e podia, banhava-as com iogurte. 
Depois meus amigos … toca a comer as amoras colhidas nos caminhos da aldeia …
Quem não tem saudades de comer amoras colhidas directamente das silvas que enfeitam diabólicas (uma dor de cabeça para o agricultor) mas belas as terras da aldeia, ainda que polvilhadas com poeira?
Quando se é criança quem se preocupa com o pó? Ninguém acho eu! Naqueles tempos dava-se mais importância as pequenas coisas da vida como a apanha de amoras, deleite que agora de adultos pode parecer a muitos, ridículo! 
Dai muita gente estar vivo (sonambulando pelas páginas da vida que corre desalmada e rápida) mas morto na vida!
Sinto agora uma necessidade descomunal de rever os pequenos prazeres aldeãos que me chicoteiam com prazer e que saboreio intensamente na memória.

João Salvador – 02/01/2013


1 comentário:

  1. Olá,
    Adorei a descrição da "terra" com os seus sabores desconhecidos pela canalha da cidade.
    cmps
    leonor moreira

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