Perto da meia-noite, o moleiro chegou a casa
com o filho mais velho. Tinha as mãos frias, pelo que se aproximou da lareira
onde se aqueceu. A mulher entregou-lhe um púcaro com café quente para o
aquecer, o que ele recusou dizendo que estava bem. A mulher guardou o café na
cafeteira, ao mesmo tempo que o olhava de soslaio achando-o pálido e abatido.
Continuou com as suas tarefas domésticas pois era preciso tratar da casa já que
os dias começavam de madrugada e terminavam apenas ao cair do dia. O trabalho
nos campos e no moinho deixava-lhe pouco tempo para as lides da casa, onde era
ajudada pela filha mais velha.
O João moleiro estava agachado na lareira,
cabisbaixo, agarrado com as duas mãos à cabeça, sem saber explicar o que o
incomodava. Uma tristeza visceral apoderara-se dele … a vida extinguia-se-lhe e
o sangue enregelava-se.
- Não sei o que tenho mulher, sinto uns
tremedouros.
- Deve ser gripe não é melhor tomares um café
quente?
- Não insistas, não quero.
- Tu é que sabes.
- Vou-me deitar. Ainda ficas?
- Sim vou acabar de arrumar as coisas que
amanhã temos que sair cedo.
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