domingo, 26 de agosto de 2012

Crónicas da vida e morte do João Moleiro - Consoada


VIII - Consoada

Era noite de consoada, encontrando-se a família reunida para a ceia. A filha mais velha havia ido buscar à fonte, um cântaro de água cristalina, para utilizar nas lavagens de louça e para beberem. A mesa era composta de algumas rabanadas e a ceia era um prato de batatas com grelos e um bocado de carne de porco, bem regada por azeite.
A ceia passou-se em amena conversa, falando-se sobre as lidas da vida diária e das suas dificuldades.
- Sabes mulher, este surgimento de moagens está a tirar-nos fregueses.
- Ultimamente temos perdido alguns – dizia a mulher ao mesmo tempo que levava o púcaro à boca para beber um trago de água.
- Cada vez me preocupo mais com o futuro. O moinho já não dá o lucro que dava antigamente. O que vai valendo é os terrenos, onde tiramos alguma coisa para comer e os animais. Temos as hortas de onde tiramos as cebolas; couves; feijão; cenouras e outros produtos; as oliveiras; a vinha morangueira e os animais. Havemos de viver com o que temos …
- Tens razão – dizia a mulher
- Por falar nisso para a semana vou matar o porco. Está bem cevado e vai dar muita carne; bons presuntos e fumeiro. Este ano a porca pariu vários leitões e podemos sempre vender alguns e guardar um ou dois para cevar para o próximo ano.
- Olha no ano passado ainda se meteu muita carne na salgadeira. Fiz bastantes alheiras como viste. Os filhos gostam imenso da carne do porco.
- Tenho que falar com dois ou três amigos da aldeia para me ajudar a matar o porco.
- Fala com o Tó; com o Albino e com o teu irmão.
- Vou falar vou, pois está a chegar o tempo da matança!
- Até o Ti Aires te ajuda se for preciso.
- Sim mas quatro são suficientes – disse a tom de remate o moleiro, encerrando o diálogo. Bem, vou até ao clube passar um bocado de tempo.
- Anda comigo filho.
- Já vou pai – disse o filho mais velho. 

Sem comentários:

Enviar um comentário