quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Para onde caminhas Portugal?




A luta hoje não é contra os espanhóis da época da restauração (esses pelos menos lutavam com honra e dignidade pelo que achavam certo). 

Naquela altura fomos heróis e reerguemos o orgulho da nossa nação, pois valores mais altos se levantaram - o orgulho de ser português. 

Hoje lutamos (diga-se com as armas enferrujadas - já que a justiça está prisioneira no cárcere de uma mar de leis que não servem o interesse de todos de igual modo) contra um poder obscuro, enraizado no nosso país (extensível a várias classes). 

A corrupção; o compaderio; a cultura do chico-espertismo; o clientelismo ; as elites chuleiras (desculpem usar este neologismo); os parasitas, todos eles vivem agarrados a um hospedeiro que está prestes a desabar, apresentando-se moribundo. 

Temos sem dúvida pela frente uma batalha bem mais difícil, que se pensava ter acabado com o 25 de Abril. 

Mas será que a revolução serviu os interesses da nação e do seu povo ou apenas de alguns que se nutrem avidamente do esforço do resto do povo? 

Onde estão os valores patrióticos de certos senhores, que apenas alimentam os seus vícios, desprezando os sacrifícios dos nossos antepassados e de tantos que pela pátria lusa lutaram. 

Tenho em mim sentimentos de amor pela pátria, a qual fui ensinado a amar. Quantos o têm? Duvido que as elites se sacrifiquem. Preferem utilizar os cordeiros para o sacrifício, não abdicando das mordomias que conseguem amealhar, criando subterfúgios que as garantem.
Para onde caminhas Portugal?"


Como diria Guerra Junqueiro:



UM POVO IMBECILIZADO E RESIGNADO...

"Um povo imbecilizado e resignado,
humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo,
burro de carga,
besta de nora,
aguentando pauladas,
sacos de vergonhas,
feixes de misérias,
sem uma rebelião,
um mostrar de dentes,
a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas
é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante,
não se lembrando nem donde vem,
nem onde está,
nem para onde vai;
um povo, enfim,
que eu adoro,
porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso
da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro
de lagoa morta (...) Uma burguesia,
cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal,
sem palavras,
sem vergonha,
sem carácter,
havendo homens
que, honrados (?) na vida íntima,
descambam na vida pública
em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia,
da mentira à falsificação,
da violência ao roubo,
donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral,
escândalos monstruosos,
absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...) Um poder legislativo,
esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador;
e este, finalmente, tornado absoluto
pela abdicação unânime do país,
e exercido ao acaso da herança,
pelo primeiro que sai dum ventre
- como da roda duma lotaria.
A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara
ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos (...),
sem ideias,
sem planos,
sem convicções,
incapazes (...)
vivendo ambos do mesmo utilitarismo
céptico e pervertido, análogos nas palavras,
idênticos nos actos,
iguais um ao outro
como duas metades do mesmo zero,
e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"

Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896

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