domingo, 26 de agosto de 2012

Crónicas da vida e morte do João Moleiro - Última morada


XII – Última morada



O enterro do moleiro foi triste, chorando os filhos e a mulher copiosamente, com uma intensidade de cortar o coração. As pessoas apiedaram-se, comentando em surdina a má sorte que tiveram.
O Tó estava muito constrangido, recordando-se da conversa que horas antes tivera com o moleiro – apesar de saber que a vida era apenas uma curta passagem para a morte (Do pó nasceu para o pó voltarás).
- Viste Zé, parece que ele já sabia que ia morrer.
- Triste sina amigo Tó. A morte expia-nos a cada esquina.
- Dizem que morreu de ataque cardíaco.
- Não sei, a verdade é que se foi para sempre um homem de bem.
- Aproxima-se agora uma luta muito grande para a mulher. Com quatro filhos nos braços, não lhe vai ser fácil!
- Pois era esse o maior fantasma que atormentava o moleiro …
A urna era de pinho, repousando ali o corpo sem vida, desprovido do espírito e da alma de tão nobre senhor. A sua face irradiava serenidade, ainda que fosse apenas aparência. A mulher olhou-o pela última vez procurando no seu rosto e nas sua memórias forças para uma batalha que se aproximava … a luta pela sua sobrevivência e dos seus filhos!
E assim seguiu o cortejo fúnebre do moleiro, em direcção ao cemitério da aldeia, após a missa. Havia-se extinguido a vida, cuja alma foi entregue às mãos de deus, como o são todas as almas desde os tempos da criação e da existência da humanidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário